Talentos

Manchete

A Tardinha é moça faceira
Que tem rebolado vadio e samba no pé.
Ela para o trânsito
E todos os Carros ficam enfileirados
Só para vê-la passar.

Tardinha não tem juízo
Chega com um brilho no olhar
E seduz o menino magricela
Que ainda nem despontou os primeiros pelos.

Tardinha não brinca em serviço
E ao "final do expediente"
Estão todos cansados
Com aquela sonolência de matar.

-Vai, Tardinha! Sai de cena e deixa a Noite entrar!

A Noite esconde muitos mistérios
E carrega uma certa tristeza no olhar.
Foram tantas decepções
E tantos amores perdidos
Que ela deve ter desaprendido a amar.

Nunca disse o motivo de estar sempre de luto
Cobre-se com um véu negro
E quem vê até pensa
Que ela não quer saber de ninguém.

Muitos são os que se perdem dentro da Noite
Principalmente, quando ela não sabe a quem amar.
Mas, basta uma simples ligação
E logo a Noite aparece fantasiada de mulher fatal.
Não adianta o salto e a maquiagem pesada
Pois, no fundo, todos sabem que a Noite é uma criança.

E é só a Lua chegar
Que um brilho especial envolve a Noite.
Dizem até que ela se perdeu
De tanto andar com a Lua.
Essa sim é perigosa
E é até melhor evitar a sua companhia.

A Lua é moça inconstante
Que não sabe o que quer da vida.
Ela é sedutora e tem uma certa lábia.
Assim, não há quem resista
Todos recebem influência da Lua!

A Noite deveria aprender com o Vento
Aquele sim já descobriu o segredo da felicidade.
É garoto alado que vai cantarolando baixinho
Enquanto segue caminho.
Só quer ser livre e correr sem destino
Cavalgar no tempo
Ser memória e instinto
Arrepio e sussurro.

-Anda, Noite! Arranca esse véu! Acorda pra vida! Deixa o Dia entrar!

VIDA?!

A Manchete em preto e branco
Anuncia a manhã cinza
Enquanto o Dia se despenteia
Preparando-se para cumprir a sua sina.

AMANHECEU CHOVENDO E UMA POÇA (de sangue) PAROU A RUA.

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Inspiração

A inspiração surge nos momentos mais inusitados e é como se estivesse envolvida por uma película mágica. Posso dizer que as pessoas são a minha maior fonte de inspiração. Quando escrevo, os personagens do teatro da vida, que vivem nas entranhas de um mundo tão emblemático, resolvem se mostrar e as palavras brotam de maneira espontânea.

Sobre a obra

A arte não deve ser explicada, mas sim sentida. Cada um pode ter uma percepção diferente, de acordo com as suas vivências e emoções. Uma mesma obra pode ter múltiplas interpretações e despertar sensações diferentes em cada indivíduo. A beleza da arte está em despir-se de rótulos. Explicar a arte é limitá-la.

Sobre o autor

Para mim, a arte funciona como uma espécie de Panaceia, capaz de curar todos os males. Por mais atribulada que seja a vida, ela se torna mais leve quando é possível enxergá-la com poesia, dando valor aos pequenos detalhes e se permitindo sentir “o novo”. Além da escrita, dedico-me também à arte abstrata (desenhos), ao canto e à fotografia.

Autor(a): ANDRESSA PACHECO DA ROCHA DIAS ()

APCEF/BA