Talentos

Ádria

Ádria ela se vestiu, abriu a porta e saiu para sua prisão. Nunca soube o que era liberdade com aqueles fios de moral a lhe apertar. Mas não deixava nenhum sonho, por mais tolo que fosse, escapar aos seus olhos vermelhos; e se um inventava de fazê-lo... lançava fios de lágrimas, e eles voltavam maiores.
Quando já descia as escadas de papel, lembrou da chave na fechadura; mas não voltou para buscá-las. Respirou, e sem hesitar, seguiu adiante.
O interessante é que lá fora voava um vento arranca-postes-árvores-e-sofrimentos. E os arrancou de Ádria. Nada permaneceria no mesmo lugar, tão resoluta ela estava que aquele era o tempo que desejava: colocar expor arregaçar lançar o seu peito o seu coração pra fora pra que vissem o tamanho amor que carregava ali dentro embora seus olhos não dissessem nada mas era aquilo que naquele instante subia ao espírito dos presentes pai mãe amigos amigas heteros gays crianças velhos budas cristos deuses Deus vícios tudo isso de um só vez na cara de todo mundo até os mortos ficaram assustados.

Até os mortos eles queriam ser engolidos por aquela luz vermelha nada de sangue de Dor e sim sangue de amor jorrando da fonte de seu corpo agora nu agora nua Ádria se deu a ficar como veio ao mundo na frente de todo mundo.
Era hora de partir.
Agora.
Sem demora.
Pegou dum cálice de poesia, espatifou-o nos seios, cortou os pulsos e... transfigurou-se em Beleza.
Isso mesmo: em Beleza!!!
Ádria ficara bela aos olhos de quem escreve este conto, e sabe, em insana consciência, que te lançou por alguns minutos alguma forma de delírio que nem mesmo quem escreveu este conto sabe explicar.
Abismo se faça em ti, leitor!...


WANILSON VATE



Compartilhe essa obra

Share Share Share Share Share
Inspiração

A inspiração veio de um nome de uma colega e da ideia de uma mulher rebelde que não aceita as amarras machistas da sociedade. Assim, o conto busca expressar a busca por liberdade de uma forma geral, principalmente a liberdade de pensamento livre e sem hipocrisias e falsos pudores

Sobre a obra

A abordagem do conto busca ser a mais abstrata possível, utilizando-se bastante da sinestesia e de uma análise psicológica, cujo tom surreal e irônico, cadencia o ritmo da palavra e busca quebrar as barreiras aparentemente óbvias entre a linguagem narrativa e a poética.

Sobre o autor

Comecei a escrever poesias aos 14 anos sem nunca ter lido nenhuma. O que me fez escrever foi um amigo que me mostrou um caderno com as suas poesias.Um ano depois tive minha primeira aula de literatura e conheci "Versos íntimos" de Augusto dos Anjos; com ele me apaixonei pela literatura e pela poesia em específico e me formei em Letras como crítico.

Autor(a): WANILSON PEREIRA DA SILVA ()

APCEF/PE