Talentos

SÓ O CHORO DO CÉU ACABA O PRANTO DE QUEM VIVE PLANTANDO NO SERTÃO

SÓ O CHORO DO CÉU ACABA O PRANTO
DE QUEM VIVE PLANTANDO NO SERTÃO

Quando a fome devora a esperança
O roceiro sente o peito rachado
Feito o solo sem vida, desolado
Ao ouvir o choro d'uma criança
É seu filho clamando a bonança:
Por fartura num prato de feijão
Ou inverno meu Deus, por compaixão
Para ver se dessa alegria janto
Só o choro do céu acaba o pranto
De quem vive plantando no sertão

Vendo isso tristonho e pensativo
Homem rude não se sustenta em pé
Cai por terra rogando a São José
Que interceda ao filho adotivo
Pede a Ele que é justo e compassivo
Pra por fim nessa triste sequidão
Depois dorme e tem uma visão
Dum encontro celeste, sacro, santo
Só o choro do céu acaba o pranto
De quem vive plantando no sertão

Vê São Pedro puxar duma bainha
Grande raio que tava pendurado
Lá no torno do céu, abandonado
Depois indo pra mesa da cozinha
Amolou em uma pedra que tinha
Pois ouviu uma ordem do Patrão:
Rasgue o bucho das nuvens sem perdão
E esprema seu sumo em todo canto
Só o choro do céu acaba o pranto
De quem vive plantando no sertão

Acordou co'a cantiga da biqueira
Como o rei do Baião cantarolava
E enquanto a telha dedilhava
Espantava a tristeza na porteira
Lá na serra, coberta a comieira
Não vê mais a nudez do paredão
Vai nascendo a ramagem e desde então
Cobre sua costela como um manto
Só o choro do céu acaba o pranto
De quem vive plantando no sertão

Poeta Evanilson Adelino

Compartilhe essa obra

Share Share Share Share Share
Inspiração

O Poeta paraibano Natan Medeiros deu o mote: “Só o choro do céu acaba o pranto de quem vive plantando no sertão”. Então desenvolvi quatro glosas (estrofes) usando da sensibilidade poética para narrar a beleza do sertão ao chegar o inverno (chuvas).

Sobre a obra

São estrofes de dez linhas com dez sílabas poéticas, cada.
Procurei falar das chuvas utilizando um pouco da linguagem geralmente utilizada no interior nordestino.
Seguindo a temática: religiosidade, simplicidade do homem do campo; tristeza da seca x beleza das chuvas.

Sobre o autor

Sou Evanilson Eugênio Adelino, casado e pai de duas filhas. Sou natural e residente em Carnaúba dos Dantas/RN.
Nas horas vagas, utilizo a poesia (literatura de cordel) para expressar o nosso cotidiano, em especial, a vida do sertanejo.
Tenho dois cordéis publicados: As anedotas de Chiquinho de Barulhão e Um pouco da minha infância.

Autor(a): EVANILSON EUGENIO ADELINO ()

APCEF/RN