Talentos

Renascer

O sonho dela era casar e ser mãe. Clichê não? Para aquela moça não. E poucos meses depois de casar resolveu que era hora de ter um bebê. Ué já? Sim! Então agora ela era uma "tentante" e tentou, tentou e nada. Pensava que poderia ter algum problema, será que não podia ter filhos? Algumas vezes chorou silenciosamente sem ninguém ver. E por fim desistiu, resolveu que ao invés de ser mãe seria a mais nova matriculada da academia, depois seria mãe, depois... Mas quem não espera, logo distrai e então ela descobriu certo dia que era mãe.

Quando nasce uma criança nasce uma mãe? Não, a mãe nasce antes da criança de fato nascer. Nasce no enjôo, na barriga crescendo, no peso aumentando, no bebê que agora mexe. Ela contava as horas para saber, será menino ou menina? O marido pensa ser um menino, até fala com a barriga como se fosse! Ela se sente levemente desconfortável e diz que se o bebê for uma menina, não está gostando nada de ouvir isso. Chega o dia de saber, todos ansiosos, dando palpite. Ela descobre! Liga pro marido e antes de dizer qualquer coisa ele diz: "É uma menina né? Eu senti.". E era. Era Alice. Tudo corria bem, Alice era aguardada para o mês de MAIO. 22 de Abril, feriado, 35 semanas. Falta pouco. Eles resolvem tirar o dia para passear já que terão que reduzir os passeios por alguns meses. Foram na fazenda da tia dela, 1h30min de viagem de carro. Cachoeira, água gelada, natureza. A mãe dela até estava lá, trabalhando na fazenda com a irmã neste dia.

Passou o dia inteiro, a grávida se sentia meio mole, cansada e com cólicas leves que todo mundo dizia ser normal "é o bebê encaixando". Comentou com a mãe que saiu um pouquinho de sangue quando foi ao banheiro e a mãe lhe recomendou ir ao médico assim que chegasse na cidade. E lá foram, ela, marido e sogra. Chegaram ao hospital o médico não parecia tão atento, mal olhou as ultrassons anteriores, fez cálculos no celular. Disse que precisaria fazer o exame de "toque", ela tremeu. Mas precisava saber se Alice estava bem. Sobre o "toque" foi o exame mais terrível para ela, as dores aumentaram e o sangramento também. O médico dizia ser normal, que o coração da Alice estava bem, passou um exame para investigar infecção. Negativo. Liberou. Mas ela insegura perguntou: "Se ela quiser nascer eu vou sentir?" ele prontamente a tranquilizou dizendo que sim, que ela só precisava de repouso após um dia agitado.

Confiando no médico foram pra casa. Alice não esta mexendo muito, mas dizem ser normal pois o bebê não tem mais tanto espaço. Ela adormeceu. 05 da manhã. Ela acorda para ir ao banheiro, quando olha para baixo, observa uma significativa quantidade de sangue no chão. Ela gela. Chama o marido, acorda a sogra, pega a malinha com roupas ainda amarrotadas. Não quer voltar ao mesmo hospital de antes nem ao mesmo médico. Eles seguem para outro hospital. Chegando lá o médico sorridente lhe atende pega as ultrassons faz cálculos das semanas a mão e já vai informando que precisa fazer um "toque". Dessa vez ela não sentiu dor e o médico com entusiasmo diz: "Você está em trabalho de parto!".

06 centímetros, mais da metade do caminho, sem dor, apenas com cólicas moderadas e ela pensa na sorte que tem, um parto normal sem dor, tudo o que ela queria. Saiu do atendimento na cadeira de rodas, toda sorridente. Só precisava fazer uma ultrasom, saber se Alice estava pronta. E lá esta ela, deitada na mesa de ultrasom, na sala a sogra, o marido e o médico de sotaque venezuelano, dizendo: "ah si, ela esta encaixada..." Pausou a fala bruscamente e com um tom que ninguém quer ouvir ele disse algo diferente: " não ela não esta na posição, está em sofrimento! precisa de uma cesária de emergência" Ninguém estava preparado para o que ia se seguir. Ela pensa "cesária?! quero minha mãe" e a mãe a tantos quilômetros de distância. Ela procurou ficar calma, Alice precisava nascer e logo naquele dia, que era 23 de abril de 2011.

A hora da cirurgia chegou, não vale a pena mencionar os detalhes sobre a agulha da anestesia o frio da sala e o desespero na alma que surge nessas horas. Começa o procedimento, o marido filmando tudo. Ela começa a sentir o peito esquentando e ardendo parece estar ficando sem ar "efeito da anestesia, logo passa". Não passou. O seu corpo balança de um lado pro outro na maca, parece inacreditável ter que fazer tamanha força para sair um bebê. Chegou o momento, Alice nasce. Não se ouve nada, apenas o médico dizendo ao marido "pai, para de filmar agora...". Coração gelado, os segundos parecem horas, Alice não chorou... Ela olha para o lado, vê aquele pequeno bebê roxinho, tubos e mãos, mexendo, sacudindo. Olha pro marido, olhos marejados e pergunta: "ela está bem?". Ele não sabe, naqueles eternos segundos ninguém sabe. Ela pede chorando a Deus em seus pensamentos "Senhor, se ela não viver me leva também não quero passar por esta dor". Ouve-se como o som mais lindo da terra, um chorinho fraco e tímido, era o renascimento de uma mãe, um carinho na alma, um alívio no peito, um sorriso no rosto, era Alice.

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Inspiração

Esse é o relato do início da minha caminhada como mãe, a minha inspiração são as minhas filhas e o amor que tenho por elas desde antes de poder ver seus rostinhos.

Sobre a obra

Apenas deixei o coração contar a história, ele sabe de cada detalhe.

Sobre o autor

Eu sou apenas uma amante da arte buscando me expressar através das mais infinitas formas dela!

Autor(a): ARYELLE BARBARA SOUSA BOECHAT FERNANDES ()

APCEF/AM