Talentos

Por quê Messias?


Por quê, Messias, vós não aceitais minhas súplicas?
Eu, que protestei, que militei e que briguei
Por vós! te acompanhei, te idolatrei!
Eu, que preciso de vós, oh mito! Por quê me calas?

E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se morreram poucos! Se a PM tinha que ter matado mil!
E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se o erro da ditadura foi torturar e não matar.
E daí? Lamento. O que eu posso fazer?

Por quê, Messias, vós não aceitais minhas súplicas?
Eu, que dancei o passo dos robôs fazendo as sarradas,
eu, que joguei pedra nas malditas pedaladas,
eu, que concordei que elas mereciam serem estupradas!
Logo eu, que acreditei nas tais mamadeiras das coisas danadas.
Eu, que preciso de vós, oh mito! Por quê me calas?

E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se precisamos fuzilar todos os comunistas.
E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se pra fuzilarmos precisamos de uma guerra civil!
E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se nessa guerra morrer uns 30 mil inocentes: tudo bem...
E daí? Lamento. O que eu posso fazer?

Por quê, Messias, vós não aceitais minhas súplicas?
Agora que o vírus não escolhe quem merece ser atingido
Que as mamadeiras das coisas danadas não tem nos protegido!
Suplico a voz Messias que não sejamos abandonados:
agora que os estabelecimentos foram fechados,
que nossos auxílios foram roubados,
que todos os leitos estão ocupados!
Eu que preciso de vós, oh mito! Por quê me calas?

E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se eu não sei economia.
E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se eu não sei medicina.
E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se eu não sei negociar.
E daí? Lamento. O que eu posso fazer?
Se eu não sei liderar.
E daí ? Lamento. O que eu posso fazer?
Se eu só sei que tem que mudar isso aí:
E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?

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Inspiração

Dizem que a arte imita a vida, mas as vezes, a vida parece imitar a arte. A realidade tornou-se tão absurda que ficou inevitável gritar. Essa poesia veio como um grito, da nossa pequinês humana, do nosso lugar de não poder fazer nada, podemos ao menos: gritar as preces de uma vida diferente. Foi desse lugar que veio a composição dessa obra.

Sobre a obra

Esse poema tentou dar potência a um grito, mas ele na verdade, se tornou uma súplica. Há um suposto diálogo entre um falso profeta Messias e seu mais fiel discípulo. Que começa a se dar conta que a vida é muito mais que simples discursos diretos. Assim o poema tenta juntar a realidade na totalidade de todas as crenças e pessoas.

Sobre o autor

Um romântico vivendo numa pandemia. Romântico no sentido de acreditar que até dentro das tragédias é possível retirar coisas positivas. Romântico por amar a literatura e as letras. Romântico por ainda fazer poesias no século XXI. Romântico por viver numa era que é exigido o não-viver.

Autor(a): GUSTAVO ARANHA DA SILVA SOUTO (Gustavo Aranha)

APCEF/DF