Talentos

RETALHOS DE MEIAS

RETALHOS DE MEIAS
E os retalhos de meias foram sendo cortados um a um, bege, preto, azul, fumê, pó-de-arroz, meias calças, meias três quartos. Uma a uma cortadas.
E eu esperando uma visita, um recado. Eu procurando ocupar a hora vaga nos retalhos de meias.
Meia por meia cortadas em tiras, esticadas, emendadas fortemente para não se soltarem, cor a cor selecionadas.
Pausa, o dedo está doendo, pois a tesoura é cega. Paciência para cortar os retalhos, paciência para esperar o recado, paciência para esperar a visita.
Volto a emendar os retalhos de meias, depois de emendar o dedo com curativo.
Faço o novelo com as tiras já prontas, enrolo, enrolo e enrolo e penso e penso e lembro, virá, não virá? O que estará fazendo?
Nem pensa em mim, talvez não, talvez sim.
E o novelo cresce.
Brinco no chão de bola e o novelo pula, pareço criança, será que a visita vem?
Pausa, preciso ligar para saber notícias dos parentes.
Pausa, preciso viver para mim.
-Alô, tudo bem? Chegou bem de viagem? Ah sim! Blá, blá, blá!
Anoiteceu, eu nem vi.
Corto mais algumas tiras, estico, emendo fortemente, enrolo, enrolo, enrolo, enrolo e o novelo cresce.
Eu avisei que ficaria sozinha. Deu vontade de chorar. Enrolo e enrolo.
Cansei, deitei na rede, chorei. Tristeza e dor.
Ai olhei o céu, deslumbrada com tantas estrelas olhando pra mim, que lindo, elas sorriem.
Refeita, volto aos retalhos de meias, o que me satisfaz. Vou cuidar da minha vida!

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Inspiração

Conto escrito num momento sozinha, distraída com trabalho manual de fazer tapetes crochetados com meias.

Sobre a obra

Descrição de um momento num domingo qualquer, com conversas e dramas pessoais. Aplicando ao texto pontuação correta, hífens, atenta ao plural e singular de cada frase. Entonando a repetição como forma de dramatizar a história.
Aproveitei o curso de Escrita Criativa na Rede do Conhecimento FENAE/APCEF, aprimorando assim o pouco que já sabia.

Sobre o autor

Sou funcionária CEF aposentada à doze anos, vinte seis anos trabalhados nessa empresa. Tenho três filhos maravilhosos, quatro netos lindos.
Escrevo desde os onze anos.
Amo registrar no meu diário (de adolescente), momentos especiais, as quais me deleito em momentos de saudade.

Autor(a): DEA CHRISTINA DE LIMA CANAZZA (Déa Canazza)

APCEF/SE