Talentos

O colar de macarrão

O colar de macarrão

Era uma tarde quente de outubro, em pleno B-R-O-BRÓ(1) de Teresina, numa temperatura beirando os 40 graus. Ainda assim, eu e meu marido nos animamos muito para o churrasco de inauguração da tão sonhada casa própria de um casal amigo.
Nos arrumamos com trajes adequados para a ocasião (ou seja, bermuda, camiseta) e eu, particularmente ornava poucos acessórios, mas estava muito feliz por poder usar o lindo colar de bijuteria que havia comprado naquela semana, feito de macarrão colorido e que era moda na década de 90.
O churrasco começou às 14h, sob um “sol de rachar”, como se diz aqui no Piauí! O evento teve que ser no quintal, por conta do espaço, e as mesas ficaram encostadas no muro, para aproveitar os galhos de um pé de caju do vizinho que proporcionava um sombreado razoável e um pouco de brisa.
A roda de samba seguiu noite adentro, animando a todos, e a cerveja estupidamente gelada descia goela abaixo, abrandando o calor.
Fomos pra casa com uma quantidade de álcool considerável no corpo, que já não me permitia sentir nada... não sentia as pernas, não sentia os braços e muito menos o grude no meu pescoço, provocado pelo “cozimento” do macarrão do meu lindo colar, que não resistiu ao calor daquele inesquecível encontro e que só percebi quando fui tomar banho, já tarde da noite.
Ao escrever agora essa crônica, em plena quarentena, pego-me a contemplar sobre a vida e a sociedade líquida em que vivemos hoje, em que os laços se rompem com facilidade e “as relações escorrem pelo vão dos dedos”.
Isso me fez sentir um conforto no coração, pois várias das minhas amizades se fortaleceram com o tempo, alicerçadas no amor e no cuidado de não se deixarem derreter, nem escorrer, diferente do que aconteceu com o meu colar de macarrão, há exatos 30 anos.


(1) A curiosa expressão vem da junção das últimas sílabas dos meses mais quentes do ano no Piauí (Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro) e representa um fenômeno meteorológico muito peculiar na região.

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Inspiração

Escrever crônica é uma coisa nova na minha vida e que tem me feito muito bem.

Sobre a obra

Nessa quarentena, tive que me reinventar na cozinha e um dos pratos que mais faço é macarrão. Daí lembrei do episódio do colar de macarrão que “cozinhou” no meu pescoço e achei que poderia render uma boa história.

Sobre o autor

Gosto muito de literatura, música, cinema, mas é na fotografia que encontro a inspiração e o encanto das coisas simples da vida.

Autor(a): MARIA DIMAS RIBEIRO LAGES (Maria Dimas)

APCEF/PI