Talentos

Em face dos últimos acontecimentos ou porque eu penso em Dean Moriarty

“Em face dos últimos acontecimentos ou porque eu penso em Dean Moriarty”

Eu quero o barco que navega sem sentido
soprado por uma brisa sem retorno.
Eu quero o lago coberto de flores claras,
caídas, repletas de pressa.
Quero estar sob este lago.

Quero que os desenhos das casas
sejam cobertos pela espessa
fuligem brotada do fim decadente
do doce roubado.
Quero que os olhos vejam do que
é feita a queda
(porque eu mesmo não sei).

Quero os braços abaixados.
Quero os corpos cansados
e em êxtase por qualquer aurora semanal
dedicada a derrubar homens fortes,
homens ruídos.

Quero o carma.
Quero a canoa para o nada.
Quero a paz dedicada à janela pura
e sem armas.

Se houvera o tempo das setas, dos finais,
quebrantos, fé e aço,
se houve espaços,
se houve rezas
que o que eu quero
sejam apenas traços,
só traços.

Um dia haverá um passo em falso
e este laço feito e refeito
servirá de alvo de um olhar cansado
de tantos traços e nenhum direito.
Os passos, os preços, os amigos perdidos e sonhados,
não serão, portanto, apagados.
Serão sim, um mapa meio que do avesso,
um caminho a ser evitado.

E de muro em muro,
o que era fantástico e arbitrário,
será sozinho, um rato branco
procurando
em um pedaço de queijo
o fim
de algo.

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Inspiração

COVID-19.

Sobre a obra

É sobre estarmos tão no fundo do poço que desejamos que um virus nos salvasse de nós mesmo. E o resultado não veio como esperávamos.

Sobre o autor

Pai do Chico e da Flofló. Marido da Helô.

Autor(a): ANDRE LUIZ VILA RAMOS SANTOS ()

APCEF/SP