BAITA CORAGEM

Certa noite os cachorros latiam desesperadamente no quintal, provocando a sensação de que alguma criatura estranha o havia invadido.

- Zé, acorda!! Acorda Zé!! Vai lá fora ver o que está acontecendo com os cachorros homem! Bravejou dona Maria, muito assustada com o enorme alvoroço que os bichinhos faziam.

- Já vou Maria. Já vou! Disse seu Zé, ainda deitado e sonolento.

Ao sentar-se à beira da cama e bem raciocinar, seu Zé sussurrou:

- Maria, eu vou lá observar pela janela da Cozinha o que tá acontecendo e você fica aqui me esperando, tá bão Maria?

E assim saiu do quarto com toda cautela possível, sem fazer barulho, como se estivesse pisando em ovos.

Atravessou a sala inteira no escuro com o maior zelo, sem perceber que dona Maria seguiu seus passos.

Ao chegar à cozinha na ponta dos pés, colocou a cabeça próximo à janela e bem devagarinho abriu a cortina para melhor observar.

Nesse momento ouviu uma voz que parecia vinda do além lhe sussurrando no ouvido:

- Viu alguma coisa lá fora Zé?

Caracas! Seu Zé levou um susto tão grande que chegou a dar um enorme pulo pra cima, que quase a alma sai do corpo e, ao perceber que a voz veio de dona Maria, que estava logo atrás, esbravejou em voz alta:

- Eu não disse pra você ficar no quarto, Maria! Que coisa sô! Que susto da bexiga. Meu Deus do Céu! Vai dormir mulher...

E assim, zangado, sem medo, abriu a porta dos fundos duma vez, saiu chutando baldes e brigando com os cachorros, deu uma volta na casa toda, esbravejando, porém nada de estranho encontrou pelo lado de fora.

Depois de alguns minutos em arrebatamento, já de volta à varanda, sentou-se numa cadeira de balanço para descansar e, ao colocar os nervos em ordem, começou a da risada de sua própria BAITA CORAGEM.

LUIZ Henrique Teodoro NEVES
Ariquemes/RO