TEMPO DE TERNURA

Sabe aquela bela gravata colorida?
Faça com ela um laço longo, com franjas
enfeite a melhor caixa, com muitos amores dentro
e ofereça a uma pessoa muito amada
que possa sorver, ao abri-la, o seu conteúdo
e devolvê-la, por saber que ali estão contidos
infinitos presentes iguais, muitos amores
para muitas outras pessoas
e cada uma delas seguirá o caminho até todas as outras
porque desejarão ver nos outros rostos
a mesma expressão que em si mesmos não viram
e farão dos outros seus próprios espelhos
reflexos iguais de pessoas amantes e amadas.
É tempo de ternura!

Troque os sapatos, os ternos e os finos saltos
por sandálias leves e confortáveis
que formem nítidas e belas pegadas
convidando naturalmente, ao mesmo caminhar,
tudo o que vive, respira e canta;
ou se o perigo do caminho não for tanto
desenhe os passos com pés descalços
e enquanto caminhar a resposta será sentida
pelo afago doce e terno da mãe, terra, Terra.
Será mais fácil e lúcido compreender
o prazer de se sentir protegido, e de proteger.
Semeie, espalhe, atire somente sorrisos
e na sua volta eles, já transformados em flores
farão tempo de ternura.

Convém livrar as mãos dos gestos duros
sob formas que ferem corpo e espírito
e que apontam setas para pessoas
em cujas pontas arde o veneno
da sanha acusatória e insana intolerância.
Que se ponham as mãos a desenhar traços
leves, sugerindo movimentos
a preencher esses traços com cores, todas elas;
ou a dar formas ao barro, à madeira e até ao duro ferro
formas que iluminem os olhos de quem passa;
E que as mãos vibrem nas cordas sons que encantam
que façam os corpos bailarem e as bocas se abrirem;
ou, apenas, que as mãos distribuam flores e outras delícias
porque é tempo de ternura.