Talentos

Uma página do meu Diário de Bordo

Hoje, como habitualmente, chove em mim.
A chuva sempre foi minha companheira, numa alternância entre boa e má.
No início da vida, eu nem sentia seus pingos, talvez porque eu os confundia com as lágrimas de alegria de minha mãe, em finalmente tornar realidade um filho, depois de tantas tentativas frustradas ou...
Algum tempo depois...na infância...por ter sempre a sensação de chuva morna e passageira de verão, na companhia das brincadeiras de rua, com os primos próximos.
Mas...então...veio a adolescência...e com ela a chuva ácida, com gotas queimando a pele e a alma entre conflitos internos, que não me foram dados os direitos de exposição, porque os externos da pequena família já me inundavam integralmente o coração e a boca.
Logo depois, o adulto me tomou, exigindo uma maturidade não aprendida, um cuidar do outro, sem nem saber cuidar de mim.
Daí...com a minha complexa habilidade de manter um pé no chão e outro nas nuvens eu, inconscientemente consciente, decidi ir para a janela esperar a chuva passar e ...
Como minha intuição já me alertava, ela não passou, tornou-se tempestade, com ondas e trovôes, que só foram abrandados porque tive e tenho a sorte de possuir, gravitacionando em meu sistema pluvial, algumas pessoas solares, gente que me emprestou sua luminosidade através de sinceras companhias, amizades e confortáveis silêncios ( incluindo aqui, a melhor das amigas, que tinha tanta luz que acabou por se juntar ao astro-rei) as quais eu exponho minha eterna gratidão.
Agora...após tantas águas passadas...tenho refletido constantemente sobre uma história bastante conhecida do Grande Livro, onde O Cara anda sob as águas revoltas e ensina aos seus seguidores como ter o mesmo poder.
Penso que, Ele, como especialista em metáforas que É, queria me dizer que, para andar sob as densas águas de nossos problemas, você tem que estar de corpo e alma leves e sempre com um olhar acima e a frente, pois, mesmo que ainda não seja possível desfrutar inteiramente a calmaria e o pacificador crepúsculo pós-tormentas, há que se acreditar que ele virá completamente.
Tenho tentado...e descoberto que...para essa leveza é necessário tirar da bagagem pesados e inúteis rancores e angústias e substitui-los só pela fé:
Em si...na vida ou... no que você acreditar.

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Inspiração

Essa crônica surgiu quando estava em reflexão sobre mais um aniversário que eu completei no ano passado.

Sobre a obra

É um autorretrato literário, por assim dizer, porque tudo o que foi escrito define o que fui e o que sou. As palavras escritas, assim como a pintura, sempre foram minhas companheiras de vida.

Sobre o autor

O desenho e a pintura tem uma agradável insistência em me fazer companhia desde a infância e, de tempos em tempos, o impulso artístico é maior que a rotina do trabalho.

Autor(a): GERVASIO CARDOSO PEREIRA JUNIOR (Geo Cardoso)

APCEF/BA