Talentos

Os Casais

OS CASAIS
Autor: Wilson Paulo Magalhães

Muitos olhares se voltavam, como flechas ardentes impulsionadas pelo arco viril de um arqueiro impiedoso, quando eles passavam. Quantos julgamentos, quantos comentários, quantas deduções, quanto tempo perdido em ilações desnecessárias, vulgares e vazias. Mas isso não parecia incomodar os casais que viviam no vigésimo quarto andar do edifício Libélula de Ouro, no bairro boêmio de Preconception, cidade de nome americano que a maioria da população ignorava o significado.
Mateus era um moço delicado, hábil na cozinha, com um gosto especial pela organização. Suas loiras madeixas cacheadas contrastavam com os cabelos desalinhados de Saulo que insistia em deixar a toalha molhada sobre a cama, mas era forte e disposto. Consertava tudo em casa e comia como um leão. Moravam juntos desde os tempos de faculdade e cresceram juntos na vida e no amor. Adeptos a noitadas animadas desde aquela época, sempre retornavam para casa juntos e curavam a ressaca no outro dia.
Até que a vida era fácil como escolher um filme ou assistir uma partida de futebol. Aliás, jogar bola era a atividade preferida dos companheiros. Três vezes por semana e depois a cervejinha para comentar o jogo. Dentro de campo era gritaria, mas fora era só alegria. As vezes era a noite toda discutindo futebol ou se apoiando nos sustos de um filme de terror. Coisa que Clara e Ana não entendiam.
Suas vizinhas do apartamento em frente formavam uma dupla semelhante Clara se parecia com Mateus. Era delicada e calma, capaz de passar horas ouvindo música e colocando as coisas no lugar. Longe da agitação decidida de Ana que muito se parecia com Saulo. Preferia as tarefas externas. Tinha um carinho protetor e paternal pro Clara.
Na casa das meninas também reinava a harmonia, adoravam ir às compras juntas e passava horas no salão, arrumando o cabelo e fazendo as unhas. Ir ao salão era uma festa e ao shopping uma terapia. Bebiam, mas preferia um vinhozinho no aconchego do lar, sem exageros e calmo. Tinham um especial cuidado com a alimentação à base de saladas e frutas com uma preocupação constante com as calorias.
Os casais frequentavam a mesma academia e, não raro faziam programas juntos: churrascos, jantares, festas e mais.
Adoravam dançar. Mateus e Clara eram exímios dançarinos, Ana e Saulo nem tanto, mas as noitadas eram muitos alegres e divertidas.
Era comum que essas noites, assim como outros eventos que faziam juntos, despertassem desejos ardentes e terminassem na cama.
Eram casais sexualmente muito ativos que transportavam, sem preconceitos ou acanhamentos, a harmonia do cotidiano para as alcovas.
Mateus era adepto de um amor delicado, quase infantil, que encantava Clara. Esta adora os cortejos, as flores na cama, as suaves declarações de amor sussurradas pela doce voz de Mateus.
No outro quarto rolava a voluptuosidade de uma amor ardente e selvagem, mas não menos agradável a seus parceiros. Fortes Abraços e gemidos. Sexo que começava na cama e terminava no tapete deixando extasiado e molhado os corpos dos amantes. Cansados, corpos relaxados, também Ana adormecia com a cabeça encostada no peito de Saulo. Mesma paz que Clara gozava nos braços de Mateus.
Ao acordarem faziam o desjejum juntos. Grandes amigos que eram, conversavam amenidades e discutiam os problemas do casamento e planos para o futuro.
Já era hora dos homens ou das mulheres retornarem ao lar, dependendo de onde passaram a noite.
E assim seguia a vida desses casais homoafetivos, heterossexuais e casados dentro dos padrões sociais atuais, pois Saulo era civilmente casado com Ana e Mateus com Clara. Apenas optaram por morarem separados.

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Inspiração

Abordagem sobre o preconceito e o prejulgamento

Sobre a obra

Conto curto com o tom crítico

Sobre o autor

Pelo segundo ano participando da FENAE, na edição anterior participei com músicas e poesias. Comecei a compor e escrever em novembro de 2017, para participar do Talentos e não parei mais.
Já estou lançando o meu primeiro CD com dez composições e tenho um projeto de escrever poesias sobre temas do Direito, chamado Versificando Direito.

Autor(a): WILSON MAGALHAES (Wilson Magalhães)

APCEF/PB