Talentos

Bora pro campo?

Rui Barbosa com João Caetano. Epitácio Pessoa, entre as ruas Anita Garibaldi e Vasco da Gama. Thomas Edson, entre a Tiradentes e Catulo Cearense.
Os nomes acima além de fazerem lembrar personalidades de importância histórica, nacionais e internacionais, para os mais atentos e conhecedores da evolução geográfica do Jardim Barro Branco fazem também recordar antigos campinhos de futebol que, durante muitos anos, foram os únicos espaços públicos dedicados exclusivamente ao lazer do bairro. Regiões para onde convergiam os interesses dos jovens nos dias úteis, após as aulas, e dos adultos nos fins de semana, em dias de folga. Onde as pernas de pau, as admiradoras, os comentaristas, os técnicos, os que esperavam a próxima, assistiam os talentos do bairro nas costumeiras peladas de fim de tarde, que desafiavam o anoitecer e a falta de estrutura, como a ausência de iluminação, típica dos espaços públicos informais.
Com o crescimento demográfico das cidades estes espaços foram ocupados por residências. Sob elas estão enterradas histórias que os mais antigos não podem deixar de contar aos mais novos. As tabelas que precederam os golaços. Os ovinhos aplicados nos menos talentosos. Os lençóis, os da vaca, os pênaltis defendidos. Não se pode deixar de lembrar dos craques do bairro. Os kekelos, os augustos, os vitinhos, os naudinhos e outros. Estes personagens fizeram parte de uma época que, na ausência das boas notas, da atuação paterna, do emprego e de muito mais, havia a certeza de olhar na janela e ouvir o chamado tradicional: “Bora pro campo”? E tudo se resolvia por uns instantes, amenizando as pressões e reaquecendo a alma.
Ainda resta um espaço para este fim, no bairro. O Mangueira, velho de guerra. Mas, por questões de insegurança - o que acomete não só esta comunidade, mas a todas as cidades – é melhor que nossos filhos continuem nos quintais, nos terraços, ou na virtual e anestésica diversão on-line. Até que um milagre aconteça. Só assim.

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Inspiração

Minha infância no bairro Jardim Barro Branco, em Duque de Caxias, com seus campinhos de futebol, em contradição com a violência atual e os hábitos de lazer das famílias.

Sobre a obra

Para escrever está crônica lancei mão de minhas observações diante das mudanças geográficas das periferias e as influências culturais que elas promovem.

Sobre o autor

Meu nome é Luiz Eduardo Barros. Tenho 34 anos. Moro em Duque de Caxias na baixada fluminense. Sou pai da Helena e do Miguel. Casado com a Erica. No ano passado fui o primeiro colocado no RJ, em poesia. Com poema infantil que publiquei recentemente como o livro Cadê o Menino? pela Ed. Viseu.

Autor(a): LUIZ EDUARDO BARROS DOS SANTOS (Luiz Eduardo Barros)

APCEF/RJ