Talentos

CLIENTES MUITO ESPECIAIS

CLIENTES MUITO ESPECIAIS

Quando esse negócio de “relacionamento” chegou à Caixa, situações inusitadas ocorreram causando a maior revolução, especialmente para os clientes mais idosos, que passaram a ser atendidos por novos gerentes, com os quais não estavam acostumados. Além disso, as formas de abordagem eram diferenciadas.
Outros bancos já utilizavam a terminologia “gerentes de relacionamento” há algum tempo, mas, mesmo assim, nem todos os clientes estavam familiarizados com essa prática bancária.
Dentre esses clientes, o senhor Juarez se destacava, uma vez que não era usuário contumaz do sistema bancário, utilizava apenas uma caderneta de Poupança que possuía na Caixa. Era um cliente especial e muito fiel, pois depositava as suas economias, advindas da sua fazenda, localizada no interior do estado, onde morava, na caderneta de poupança que possuía numa das agências daquele banco em Salvador.
Dono de um sorriso aberto e farta cabeleira grisalha, o senhor Juarez aparentava ter 70 anos. Era baixinho, passos rápidos e curtos, peso avantajado, de maneira que a sua forma física era do tipo “barricular” – novo termo a ser inserido no “Aurélio” –, que quer dizer similar a um barril.
Por outro lado, a sua esposa, Dona Margarida, era bastante “vistosa”. Tinha 1,75 m de altura, busto bem volumoso, braços roliços e musculosos, falava alto e forte. Por isso, Seu Juarez tremia de medo quando ela abria a boca, mas, mesmo assim, dizia que ela possuía nome de flor.
Todo orgulhoso, vestido no seu terno branco de linho Braspérola – do verdadeiro –, como fazia questão de dizer, e calçado no sapato preto bem engraxado, ia mensalmente à capital e passava na Caixa para ver a sua poupança e os amigos da Caixa.
Nessas visitas, sempre levava uns presentinhos, tipo mangas, raízes, cachos de banana e, uma vez, até uma galinha viva!... Quase sempre eu morria de vergonha quando Seu Juarez chegava. No dia da galinha, então!... A bichinha cantava, todos me olhavam, eu não sabia o que fazer, porém Dona Judite, a copeira, como sempre, logo deu um jeitinho e levou a penosa para a copa.
Um belo dia chega Seu Juarez para olhar o saldo da sua poupança.
– Boa tarde Dona Lourdinha!
– Boa tarde Seu Juarez, como vai o senhor?
– Bem, com a graça de Deus.
– Seu Juarez, o senhor é um cliente muito especial. Tenho receio de que o senhor venha à agência num dia em que eu esteja ausente, de férias, ou, até mesmo, participando de alguma reunião; então, vou lhe apresentar a Tereza. O senhor vai adorá-la!
Tereza era a gerente de relacionamento do sonho dos clientes, não só pela sua forma gentil e atenciosa, como pelos dotes físicos que possuía. Era morena clara, cabelos longos e negros, olhos amendoados da cor de mel e lábios carnudos ressaltados pelo batom vermelho que usava. Nesse dia usava um tailleur acinturado, que deixava ainda mais à mostra o seu largo quadril.
Imediatamente peço a um estagiário para chamar Tereza e faço a apresentação:
– Tereza, este é o Senhor Juarez, um cliente muito especial.
– Senhor Juarez, esta é Tereza, a sua GERENTE DE RELACIONAMENTO!
– Como Dona Lourdinha, gerente de “quê”?
– De relacionamento, Seu Juarez. Agora a Caixa está querendo personalizar ainda mais o atendimento a clientes especiais como o senhor. Então Tereza o atenderá integralmente!
Seu Juarez abriu um sorriso muito maroto! Apertou mais que gentilmente a mão de Tereza.
– Encantado, dona Tereza – disse.
Ao se despedir de mim, chegou ao meu ouvido e confessou:
– A Caixa está ficando melhor. Arranjou até gerente de, como é mesmo? – de relacionamento? É isso, Dona Lourdinha? – A moça é bonita!...
– A senhora é minha amiga, a minha mulher não pode saber!


Compartilhe essa obra

Share Share Share Share Share
Inspiração

Trabalhei na Caixa durante quarenta e um anos, passei por diversas unidades e muitas histórias aconteceram; essa foi uma delas que resolvi contar, amante de literatura que sou. Nesse conto quis relatar uma das fases vivenciadas pelos clientes e empregados da Caixa, que foi a mudança do atendimento aos clientes, a famosa segmentação bancária.

Sobre a obra

Procurei fazer uma narrativa curta, com poucos personagens, mas bem caracterizados, narrando uma história engraçada que prende o leitor. Como vivenciei essa situação, e demonstrei isso no conto, fazendo o leitor acreditar nesse fato, consegui ainda mais atrair a sua atenção.
Amigos me incentivaram a inscrever as minhas obras no Talentos FENAE/APCEF

Sobre o autor

Eu adoro escrever, principalmente sobre temas filosóficos e que fazem o leitor refletir sobre o seu comportamento diante da vida.
Desde criança que escrevo e continuo desenvolvendo essa habilidade.
Como estou aposentada, tenho mais tempo para exercitar o lado direito do cérebro, da criatividade, e assim me dedicar às composições literárias.

Autor(a): MARIA DE LOURDES SANTOS ARAUJO (Lourdinha Araujo)

APCEF/BA