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O menino
Bem cedo, ele não fazia idéia de que horas acordara, não tinha relógio, mas sabia que o sol nem sequer havia nascido. Isso não fazia diferença, seus dias pareciam todos nublados, sem cor. Ele senta em sua cama de papelão, dobra cuidadosamente seu cobertor velho, fino, furado e guarda. Sentado ali, imagina como será o seu dia, ainda tinha dois biscoitos no pacote velho que achou no lixo, café da manhã. Ele ouve aquele chorinho ao longe, fraco, baixo, seu irmão deve ter acordado. A mãe onde estava? Com certeza atrás de trabalho por aí, a sina de cada dia.
O irmão continua chorando. Caminhando até lá do outro lado do lençol pendurado que marca a divisão de quartos do barraco, ele vê aquele pequeno menino, pequeno mesmo para 2 anos, aparenta ter bem menos, sujinho, rosto molhado do choro e com frio do sereno da manhã. Sentando ao seu lado, ele tenta acalentar o irmão, lembra do biscoito e divide com ele.
O menino deita com o pequeno irmãozinho, que agora feliz come o biscoito, e vendo aquele sorriso outrora sumido, pensa sobre uma vida diferente. Observa atentamente ao seu redor a ausência e o espaço. Um passarinho aparece na porta do barraco, come pequenas migalhas espalhadas pelo chão, canta, voa. O menino levanta, pega uma garrafa velha de plástico, uma tampa de lata um pouco mais funda, derrama água, põe na porta e espera.
Ansiosamente espera. O passarinho volta, bebe a água da tampa da lata, canta, voa. O menino com os pensamentos vagos anseia ser pássaro, feliz com as migalhas um pouco de água, cantando e voando, livre.
Inspiração
A motivação é o cotidiano muitas vezes desconhecido, simples, porém rico em detalhes, pobre de cores, cheio de sonhos.
Sobre a obra
Queria contar a história do menino que a gente vê no sinal, na rua vendendo bala, na praça catando lata, na esquina fazendo malabares com laranjas.
Sobre o autor
Amante das artes, de todas as formas dela, me atrevo a escrever, cantar e registrar a vida ao meu redor :)
Autor(a): ARYELLE BARBARA SOUSA BOECHAT FERNANDES (Aryelle Boechat)
APCEF/AM