Talentos

A PRESSA NOSSA DE CADA DIA

Cada vez mais me assusto com a rapidez que os dias se sucedem. Tudo acontece numa velocidade extrema e, muitas vezes, não temos tempo para assimilar ou desfrutar inteiramente momentos que são únicos. Esse tipo de situação me faz pensar que talvez estejamos sendo mais superficiais.
É evidente que a evolução da tecnologia e os avanços da ciência são extremamente importantes, mas, neste momento, refiro-me ao material humano. O que estamos fazendo do nosso tempo? O quanto temos vivido verdadeiramente? O que pretendemos fazer? Observo que são questões pontuais que regem a nossa vida e as respostas para elas estão se tornando muito vagas.
Num mundo bastante competitivo, exigimos e nos cobramos mais. Estamos sempre procurando nos superar e demonstrar o quanto somos capazes. Geralmente, deixamos de lado outros afazeres, seja por falta de tempo ou até mesmo pelo cansaço. E, dessa forma, a vida vai passando. Estamos mais preocupados com o resultado do que com nosso bem-estar e tranquilidade. Deixamos que inquietações interrompam nosso sono, afetem nossa alimentação e, assim, seguimos meio tortos, mesmo que mais adiante nossos corpos peçam socorro. Em última instância, recorremos a interações mais agressivas para nos manter “ligados” ou, o oposto, para diminuir o ritmo e poder ter uma noite de sono sem interrupções. Para alguns, o coração descompassado ou acelerado não aguenta e para sem avisos.
Esquecemos de viver um dia de cada vez. Queremos soluções imediatas e práticas, mesmo que isso, pouco a pouco, apague a nossa essência. Abandonamos desejos e sonhos. E todos os dias eles batem a nossa porta e nos recusamos a abri-la. Com o passar dos dias, torna-se mais distante ir buscá-los. O que deveríamos fazer, então? Permitir-se seria a palavra mais adequada. Viver e não somente sobreviver. Desfrutar os momentos com aqueles que amamos, viajar e conhecer novos lugares seja fisicamente ou apenas mentalmente por alguns minutos. Abrir-se a novas sensações e novos paladares, escutar o silêncio e o interior, descobrir mundos sequer sonhados e revelar-se sem artimanhas, sem maquiagens, sem máscaras. Despir-se das exigências, acalmar a fera e parar de nos chicotear como se fôssemos escravos da pressa. E, acima de tudo, deixar de inventar desculpas, parar de enganar a si mesmo e encarar a realidade, pois somos os únicos capazes de transformá-la. E os únicos que podem viver e aproveitar o seu próprio tempo.

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Inspiração

Uma reflexão sobre o tempo.

Sobre a obra

Crônica

Sobre o autor

Gosto de escrever.

Autor(a): REBECA BULCAO DA SILVA (Rebeca Bulcão)

APCEF/RS