Talentos

Vã liberdade

Vã liberdade

Eu nunca estava presente. Aqui, acolá, onde quer que fosse, sempre revivendo meus ontens, arquitetando meus amanhãs. Esses então, verdadeiros mantras. E eu dialogava, trocava abraços, emoções, projetos; eram muitas as visitas, as discussões, os brindes. Tudo muito real: desenhos no chão, projetos de casas, sobrados cheios de janelas, uma escada como palco e muitos chinelos perdidos. Bem assim, cantava, cantava muito, frequentando tardes alongadas, mesas postas, valsas por enormes salões. Sentia-me princesa quando dançava entre os casais, meus pés sobre os pés de meus tios. Adultos dormem tarde, e, apesar do incômodo que me traz, lembro bem a outra face da noite, suas sombras escuras, as roupas penduradas com corpo de gente, a insegurança, os medos e os moldes, todos enfileirados em retilíneos cabides.
Mas eu era boa em falseá-los. Sabia de cortinas secretas por onde eu seguia, rodopiando, indo e vindo, sempre longe do mesmo lugar.

Af! Não é bem disso que quero falar. Vê-se que já estou indo novamente, seguindo meus outrens, meus tantos quem sabe, aquela curva lá na frente do último dos depois.
Depois nada! Quero me situar. Tentei sair e já perdi a conta dos endereços sem porta aos quais cheguei.
Agora, já não quero mais esse chegar, desisti disso. Quero estar.
Desapegar de um certo modelo, a resposta certa, o retoque final, o contraponto sempre na veia... Como se eu fosse um 'as' nessas coisas...
Ensaio todo santo dia, desdenhar desse tal de tempo, este “Senhor”, com sua sirene de ambulância piscando no meu traseiro.
Preciso sair da frente.
Eu quero mesmo é ignorar a segurança, esta insana! E sair recolhendo todos os sins de olhar caído, esvaziar minhas gavetas, embaralhando meus colares e lenços, sentir o calor de seus abraços.
Sonho em coabitar meus próprios sonhos . Eu quero caber em mim!
Então sigo em busca de forças para puxar este portão, que o vento não me deixa fechar... É bem verdade que jamais trancaria, mas eu quero a chave. Preciso dela comigo.
?
E eu que me felicitava por meus surtos de liberdade...

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Inspiração

O exercicio, a necessidade e o prazer da escrita

Sobre a obra

Discorre sobre Corações angustiados, sempre em busca da liberdade, realizações, felicidade. Qdo criança, a imaginação corre solta, e as asas estão livres. Quando adultos, somos tragados pelo cotidiano, exigencias, necessidades... enfim, o conflito de uma liberdade que nunca chega. esta foi a linha condutora

Sobre o autor

Sou amadora mas sempre gostei muito de fotografar, mas a tecnologia tem me tolhido bastante, o que piora muito com a falta de frequência. Adoro fotografar pessoas, detalhes, reflexos e sou viciada em ângulos fechados.
Escrever faz muito bem para a alma, o corpo e o coração. Sempre gostei.

Autor(a): ANGELA MARIA FASSINA BARONE THEBALDI (ANGELA BARONE)

APCEF/ES