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PAIS DO FUTURO

PAIS DO FUTURO

Sou da época que brincar era no quintal de casa, com bonecas no chão, fazendo casinhas, comidinhas, fazendo barracas com lençóis, fazer nenê ninar, de acalentar a boneca numa conversa de um mundo imaginário baseado no amor que recebia de meus pais. De brincar de pega-pega, de andar de bicicleta, de subir em árvore até o topo, e passar horas admirando a paisagem e desejar ter asas para voar.

Sou da época que desenhava nas paredes de casa, e as mães achavam uma “obra de arte”, de brincar na rede, balançando tão alto que parecia que a rede daria um luping arrasador! De comer fruta fresquinha retirada do pé, de criar galinhas e comer ovos caipira, vermelhinho, molinho, no copo com pão picado. De fazer doce de goiaba, de caju, de manga, em tacho de cobre e colher de pau, num fogão à lenha, onde se juntava a família para realizar essas delícias, sem pressa, pois o tempo passava bem devagar...

Sou da época de sentar na porta de casa no fim da tarde e brincar de taco, de passar o anel, de queimada, enquanto os pais se sentavam à beira da rua, em cadeiras de fio, e contavam histórias ao cair da noite que assustavam as crianças, que depois dormiam encolhidas no colo dos pais.

Na hora das refeições, todos se sentavam à mesa, e conversávamos alegremente Não havia TV, celulares, tabletes ou fones de ouvido. As mães eram as primeiras professoras dos seus filhos, as mulheres passavam mais tempo com a educação das crianças e seus afazeres domésticos, amamentavam as crianças até ficarem crescidas e morrerem de vergonha de mamar no peito.

Sou da época de pedir à benção aos pais, de beijar à mão, e que bater em criança não era crime, mas sim um corretivo necessário e importante para a formação do seu caráter, onde seu maior objetivo como pais era formar filhos doutor.

Sou da época que professor era respeitado e admirado, e que o aluno nunca tinha razão, onde a educação e limites eram ensinados em casa pelos pais. Os pais não conversavam sobre sexo ou assuntos como homossexualidade, e nem era assunto de disciplina escolar! Ensino Religioso, OSPB, Educação Moral e Cívica, Hino Nacional, da Bandeira, dia do Índio, Proclamação da República, dia Árvore, eram datas lembradas com muita importância, pois era neles que se enraizava a necessidade de aprender a respeitar, admirar e amar a natureza, o país, as pessoas.

Hoje as mulheres priorizam suas carreiras e casam-se depois dos 30, talvez se tornam mães de filho único aos 35 anos, ou adotam um cachorro. Terceirizam a educação do filho, o transporte, a limpeza da casa, o banho e o passeio do cachorro...

Aos 02 meses de idade do bebê ele já consegue ver e reconhecer os pais, estes sabiamente decidem que o bebê já tem idade suficiente para passar o dia e a noite assistindo “ A Galinha Pintadinha”. Aos 05, 06 meses de idade quando já conseguem ter domínio em segurar e jogar objetos no chão, já é maduro suficiente para assistir Youtube. E aos 12 meses de idade já escolhe os próprios Desenhos e chora quando seus pais decidem opinar. E pais que passam poucos minutos ao lado dos filhos acham mais correto ceder aos desejos dos filhos, afinal não gostam de vê-los chorar.

As mulheres vivem a crise da escolha cruel, de ter filhos ou ter sucesso profissional, pois um terceiro sexo está em concorrência muito forte ocupando cargos de chefia e poder nas maiores organizações, e que não possuem essa carga pesada de uma responsabilidade de estrutura familiar tradicional.

Que pais meus filhos serão?! Eles estão sendo engolidos e amarrados numa infância cibernética. Que experiência poderá partilhar de vivências vividas apenas em telas de Youtube? Que relacionamentos poderão construir onde conversas são mais prazerosas por meio de Wattsap? Como lidarão com decepções, medo, angústias, se não fizeram amigos? E a felicidade? O que é isso? Será dar risadas de vídeos engraçados? Ter Wi-fi 24 horas? Ou bateria que não precisassem ser recarregadas?

Que profissão poderão escolher se nunca brincaram de LEGO, de quebra-cabeças, de médico, dentista, não se sujou tinta, de terra, de lama, não subiu em árvore e desejou ser piloto de avião?

Talvez meus netos serão filhos de pais despreparados para uma vida real, sem ficção científica ou efeitos especiais. E que filhos terão os meus netos?

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Inspiração

A inspiração para escrever esta crônica, foi em razão das angústias que tenho vivido, pois sinto meus filhos sendo cobrados no meio onde vive, da necessidade de ter celular aos 06 anos de idade. E é uma pergunta que me assusta: que pais meus filhos serão? Que netos eu terei? Que legado temos passado? Como influenciar sem excluir, segregar?

Sobre a obra

Eu sempre gostei muito de escrever. Em minha adolescência escrevia muitas cartas e fiz amizades no mundo todo, as cartas eram quase um livro, dez, quinze páginas. E esse desejo de registrar tudo continuou. E quando meus filhos nasceram meu melhor jeito de registra era descrever cada instante. Hoje viajo pelo Brasil à fora e registro tudo no papel.

Sobre o autor

Sou artista plastica, registro em fotografias, vídeos e escrevo as coisas que tenho vivído nesse período de andanças pelas Agências mais longíquas no mapa.

Autor(a): ERCILIA CORREA DE AMORIM CAFE (Ercília Café)

APCEF/MT