Talentos

Ventos de maio

Ventos de maio

Escorre
Pela rés da face
Pluma invisível da lembrança
Fina...
Suave...

Tilintantes,
As folhas da mangueira
Prenunciam o sopro-mãe
E seu comparsa morno sol,
Que em nesga desce o umbral
E de súbito me assalta a memória:

Meu pai
A catar as talas de bambu
No vadio terreno
(baldio coração)
A esculpir, com doce magnitude,
A cruz aerodinâmica
Que dali a instantes ganharia os céus

Atônito
Mirava a pre-cisão dos cortes
Que no espaço de suas funduras
Armavam o tenro jirau

As linhas
A envolver os mastros da caravela
E seus sinuosos contornos per-
feitamente simétricos
De pura invenção

A seda
Que há pouco deslizava
Pela prata lâmina da tesoura em X
Agora imanente ao objeto semivivo
Como carne em osso
De pássaro perdiz

Meu trunfo
Hasteado da laje da infância
Com ele me indo...
e indo...
...ao fundo azul-onírico
Que anualmente
Insiste em me assistir
Quase sempre sem aviso



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Inspiração

O poema surge da evocação de uma forte imagem da minha infância: soltar pipa com meu pai.

Sobre a obra

O poema tenta transmitir a força imagética e sensitiva da minha experiência em memória, procurando utilizar poucas palavras e impor um ritmo cadenciado.

Sobre o autor

Tenho escrito poemas de forma irregular há mais de 10 anos. Entretanto, a literatura tem estado diariamente em minha vida desde a adolescência. Penso em publicar ao menos uma compilação de poemas realizados ao longo desse período.

Autor(a): RHUAN ALENCAR DA SILVA (Rhuan Alencar)

SP