EU ERA UM RIO DE ADMIRAR
LEVAVA CANOAS, TRAZIA VAPORES
LEVAVA PESSOAS, TRAZIA OS AMORES
DE OUTRO LUGAR
HOJE LAMENTO
O LEITO SECO, SUJO E BARRENTO
A DOR E A VERGONHA
ME ARRASTANDO PRO MAR

NASCI DOS OLHOS DA TERRA
TRACEI O MEU LEITO
CORRENDO NA SERRA
POR ENTRE AS COLINAS
ENTRE AS PERNAS FORMOSAS
DOS MONTES DE MINAS
LAVEI AS ALDEIAS
CORRI SOLITÁRIO
BANHEI AS MENINAS
CUNHÃS AIMORÉS
HOJE RESTA A SAUDADE
E O MEU LEITO VAZIO
LEMBRA, LEMBRA, LEMBRA
MEU MENINO
AINDA ME LEMBRO
VI VOCÊ SENTADO ASSIM
É COMO SE FOSSE HOJE
MEU PEQUENO CURUMIM
EU MATAVA SUA SEDE
TE CONTAVA MINHA HISTÓRIA
VOCÊ CANTANDO, E A VIOLA
SUA HISTÓRIA PARA MIM
HOJE VOLTOU FORMADO
QUAL TRISTONHO PASSARIM
NA GAIOLA, O CANTO É TRISTE
A VIOLA É UM CHORO SÓ
NÃO ME OLHE DESSE JEITO
HOJE EU SOU O QUE SOU

UM VELHO RIO
SECO E SUJO, MORTO
QUAL DOUTOR QUE JÁ NÃO SONHA
NÃO ME OLHE, TENHO VERGONHA
NÃO ME OLHE COM TANTA DÓ
APENAS TOQUE A VIOLA
QUE EU NÃO POSSO TE TOCAR
QUERO ESCUTAR O TEU CANTO
QUE ESSE VELHO AINDA RESISTE
SÓ PRA OUVIR VOCÊ CANTAR
VIOLEIRO, QUANTAS VEZES
INSPIREI SUA CANÇÃO
LEVEI BARCO E CANOEIRO
TANTA ÁGUA, TANTO PEIXE
HOJE QUANTA SOLIDÃO
TE FALEI TENHO VERGONHA
CHORE DESSE JEITO NÃO
QUE ESSE VELHO DE ALGUM JEITO
TAMBÉM TEM UM VELHO PEITO
E ESSE PEITO DE ALGUM JEITO
TAMBÉM TEM UM CORAÇÃO