Talentos

Baú

Baú
Objeto de grande utilidade.
Serve pra guardar coisas.
Muito útil na cidade.

O que não queremos mais.
Fora de uso ou coisas velhas.
Jogá-las? Jamais!

Nele guardamos a memória
Encerrada no escuro
Presa sem escapatória

Sua fome é imensa
Engole tudo o que recebe
Declarando assim sua sentença

Com promessa ora de avalista ora de consumista
Devolverá o que nela foi confiado
Com o tempo se sente majoritário acionista.

Recusa deixar-se ser tocado
Desfaz seu trato
Sem se sentir acuado.

Torna se de seus objetos proprietário
Achando se rico e abastado
Se torna com o tempo um ordinário.

Em sua sede de querer e não devolver
Se deixa empoeirar
Para que seu dono nele não sinta mais prazer

Sua sorte agora está selada
Seu destino foi traçado
Sua agonia a galope é abrasada

Num gesto rude e vil
De quem um dia o amou
E hoje se tornou hostil.

Seu dono, decidiu de modo arbitrário
Sem as lembranças do passado
Que agora o baú não passava de uma peça de Antiquário

Sem poder se defender
Teve suas posses pilhadas
Preço alto por se corromper?

Seu estômago viu se esvaziar
Suas posses uma a uma empilhadas
Sem em nada disso acreditar

De repente, como num golpe mortal.
Sabendo que seria descartado
Viu um ser angelical

Pôs seus olhos naquele rival
Branco, moderno e bem maior,
Assim se sentiu um ser pobre e banal

Aquele branco era lindo, pensava...
Tinha de aceitar seu destino
Embora isso o abominava.

Não demorou
Descobrir sua destinação
E naquele quarto uma senhora entrou

A amável senhora com voz trêmula perguntou
"Onde está meu baú?"
E mal terminou de perguntar já adivinhou

Seu lindo sorriso logo denunciou
Que a poeira não importava
E com carinho de imediato o amou.

Para casa o levou
Novo verniz e enfeites recebeu
E com um tapinha o abençoou
Recebeu novos objetos.
Coisas brilhantes nunca vistas antes
Guardados como se fossem secretos.

Sentiu-se amado
e percebeu como antes errara.
Agora prometendo ter mudado

Percebendo ser apenas um fiel depositário
Dessas posses agora tirava prazer
Sem o outrora sentimento mercenário.

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Inspiração

Inspirado num Baú em MDF que projetei e construí. Objeto que, não raro vira um depósito de coisas que poderiam ser descartadas ou doadas se não fosse o valor sentimental que aplicamos às coisas. O tempo passa o percebemos que não vale a pena guardarmos o que não vamos, de fato, usar.

Sobre a obra

Uma poesia livre sem preocupação com métrica ou rima.

Sobre o autor

Empregado da CAIXA há 13 anos. Formação técnica em Prótese Odontológica, Licenciatura em Letras (Vernáculas), Mestre em Teologia e músico desde os 6 anos de idade. Atualmente, músico integrante da Orquestra de Metais Londrina, Banda Integração (Rolândia/PR) e da Orquestra Barroca Capriccio Stravagante (Londrina) atuando como trompetista.

Autor(a): OZIAS FREZ BOCKORNY (Ozias Frez Bockorny)

APCEF/PR