VOZES DA VIDA

VOZES DA VIDA

Pedi calma ao irmão vento
Moderação na corrida
Pois sua velocidade
Por vezes destrói vidas
Ninguém o impede de andar
Com calma ele alcançará
Sua meta pretendida

No rastro da sua passagem
Seu corpo embora gasoso
É combinação atômica
Movimento poderoso
Árvores são arrancadas
Pessoas ameaçadas
Plantações são dizimadas
Por furacões tenebrosos

A resposta captei
Como vinda do astral:
- Sou força da natureza
Agir assim é fatal
Não conheço sentimento
Sou apenas movimento
Não distingo o bem do mal

Eu sou cego no seu plano
Não entendo o que diz
Não percebo o que lamenta
O que fiz e como fiz
Eu não tenho consciência
Nem da minha existência
Não sou infeliz nem feliz

Quando passo devagar
Eu sou brisa carinhosa
Penteando o capinzal
Tal cabeleira formosa
É festa na natureza
Sou encanto, sou beleza
Sou uma caricia gostosa

Após, encontrei uma planta
Cheia de folhas e espinhos
Invadindo todo o espaço
Sufocando seus vizinhos
Questionei-a: por quê?
Só cuida do seu viver?
Só interessa o seu querer?
Só importa o seu caminho?

- Pensas que sou malvada
Egoísta ou coisa assim?
Gritou ela com firmeza
Dirigindo-se a mim
Esta vida é uma guerra
Quem não defende sua terra
Nem começa, chega ao fim.

Para não ser sufocada
Eu procuro sufocar
Os espinhos me protegem
Do animal me pisar
O que parece rudeza
Em verdade é defesa
Pra vida continuar

No meu nível é assim
Civilidade é fraqueza
Sobrevive o mais forte
Lançando mão da dureza
Não há sensibilidade
Nem bondade nem maldade
Nem alegria ou tristeza

Cumpro assim minha função
Na ordem do Criador
Não me podes pedir mais
Nem ódio e nem amor
Este é o meu estágio
Aqui vale o adágio:
Quem manda é o vencedor!

Encontrei um animal
Que espreitava sua presa
Perguntei se aquela vida
Não lhe causava tristeza
- Por que tanta violência?
Tenha um pouco de clemência
Aplaque sua dureza!

Sois superior às plantas
Podes correr e voar
Possuis olhos e ouvidos
Tens olfato pra cheirar
Importantes atributos
Já não sois tão involuto
Já podes se abrandar

Replicou com segurança
O meu interpelado
- Eu vivo mecanicamente
Não sou certo nem errado
Não sou livre para agir
Sou obrigado a cumprir
As leis do meu estado

Precisa compreender
Que nós os animais
Ainda estamos distantes
Dos seus progressos morais
Dos princípios e das normas
Da essência e das formas
Das leis espirituais

Seguimos nossos instintos
E nisto não há pecado
Vivemos no nosso plano
Nele nós somos cerrados
Não há o que escolher
Nem o que compreender
É seguir resignados

Este é o nosso estágio
Mecanicamente vivemos
Como sermos diferentes?
Se ainda não aprendemos
Não é bom nem é ruim
Nos cabe viver assim:
Procriamos e comemos


Em seguida me voltei
Para o meu semelhante
A caminho da evolução
Lutando pra ir avante
Tem em si o animal
O vento e o vegetal
Porém, num plano adiante

Perguntei: por que tu cais?
Respondeu: sou imperfeito
Já escolho como agir
Se deste ou daquele jeito
Conquistei a liberdade
Junto a responsabilidade
Respondo pelos meus feitos

Sou livre pra semear
Mas obrigado a colher
Seguir as leis da vida
É meu rumo, meu dever
Já não sou um cego instrumento
Só me chega sofrimento
Se eu não souber viver

As leis existem pra todos
O homem as conhece
Viver baseado nelas
Em tudo o favorece
Como ser espiritual
Aprimorando a moral
A evolução acontece

É evolução infinita
Um eterno vir a ser
E quanto mais aprendemos
Mais temos a aprender
Apenas Deus é perfeito
Nós temos graves defeitos
Muito a desenvolver

Depois, encontrei um anjo
Um ser bem aventurado
- Você progrediu muito
Já está mais avançado
Se avizinha do Senhor
Respira no grande amor
Já vive despreocupado!

Respondeu-me docemente:
- Já não preciso lutar
Eu sou um canal de amor
Que vive a trabalhar
Incansável operário
Em trabalho necessário
Pra a humanidade avançar!


Na esfera onde vivo
Não há ociosidade
Trabalhar é grande mérito
É colher felicidade
De Deus eu sou instrumento
Aplacar seu sofrimento
É a minha atividade

Aqui fervilha o trabalho
Aí se agita o mal
Aqui amar ao próximo
É postura natural
Aí é outro cenário
Faz-se tudo ao contrário
Ser egoísta é normal

Então, me dirigi ao Criador:
- Amado e eterno Senhor
Com meu coração em prece
A Ti toda honra e louvor
Peço-te sempre viver
No seio do seu Ser
Na glória do seu amor

Vi todas formas de ser
Enquanto eu assim falava
Vislumbrei as criaturas
Que o mundo hierarquizava
Desde o átomo até o anjo
O adormecido despertava

Cada um no seu lugar
Na obra da Criação
Ordenadamente dispostos
Pelo grau de evolução
As Leis da vida atuando
E todos vão avançando
Galgando mais posição

Então pude compreender
Como é composto o Universo
Nós somos suas partículas
Nele estamos imersos
Compomos seu organismo
Regidos pelo monismo
Nos seus espaços diversos

ANTONIO BORGES ANDRADE

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Inspiração

Eu vivo fazendo reflexões, estudando, buscando entender a vida nas mais variadas manifestações.
em abril passado, me ocorreu escrever um poema sobre o tema, e, em seguida tomei conhecimento deste concurso.

Sobre a obra

Eu estabeleci um diálogo imaginário com o vento (composição de átomos), a planta, o animal, o homem, o anjo e por fim me dirijo a Deus, em seguida me posiciono em relação ao composto universal com todas as suas formas.
Optei pelo formato de cordel, por envolver ritmo e rima que imprimem ao texto um leitura mais suave.

Sobre o autor

Hoje sou aposentado CAIXA, porém, durante o meu tempo ativo, os colegas me pediam algum texto, sempre que havia aniversário a comemorar, datas como dia das mães, dia dos pais, natal, etc.
Essas oportunidades me fizeram descobrir versejador. Hoje escrevo mais frequentemente sobre temas diversos.

Autor(a): ANTONIO BORGES ANDRADE ()

APCEF/DF