Talentos

Réquiem para o Sertão Nordestino


Outra seca castiga os habitantes
do sertão nordestino sem clemência. 
À mercê de uma bolsa de assistência
sobrevivem por meses torturantes.
Candidatos, por certo, a retirantes
muito embora não tenha acontecido
nenhum êxodo, ou algo parecido,
nós veremos em breve os matulões...
Coloquemos em nossas orações
o sertão do nordeste tão sofrido.
                      
Cinco anos sem chuva, sol a pino,
aniquila o sertão, haja destrôço!
A boiada é agora só de osso,
relembrando os meus tempos de menino.
Sertanejo lamenta o seu destino:
em um lustro, apenas, ter perdido
o que fora por ele construído
pelo menos há duas gerações...
Coloquemos em nossas orações
o sertão do nordeste tão sofrido.
                      
A cacimba com água pra beber
já secou e por lá não tem CAGECE.
Bodegueiro “quebrou”, ninguém fornece
a ração necessária pra viver.
Se o quadro que está permanecer
residir no sertão não faz sentido
e o problema não sendo resolvido
desabita de vez nossos sertões...
Coloquemos em nossas orações
o sertão do nordeste tão sofrido.     
                                   
No início do século dezenove
sertanejo era a ampla maioria.
O que resta é tão pouco hoje em dia:
10%, se muito, isso comove.
A razão principal: quase não chove,
se chovesse, sair de lá duvido!
Pra não vermos pra sempre destruído
o celeiro das nossas tradições
coloquemos em nossas orações
o sertão do nordeste tão sofrido.
                        
Foram tantos os gritos de alerta
de Humberto, Zé Dantas, Gonzagão,
Patativa, chamando a atenção
pra uma chaga que estava sendo aberta.
No futuro uma triste descoberta,
quando, enfim, o sertão tiver “morrido”:
Restará, ecoando em nosso ouvido,
o apelo dramático das canções...
Coloquemos em nossas orações
o sertão do nordeste tão sofrido.
                        
Uma turma de alunos – promissora –
estudava animais em extinção:
ararinha azul, mico-leão,
o guará, a raposa voadora...
–  E aquela espécie, professora,
de olhar tão tristonho, embrutecido?
Diz a mestra, semblante dolorido,
era um sertanejo... e dos bons!
Coloquemos em nossas orações
o sertão do nordeste tão sofrido.

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Inspiração

Os cinco anos de seca que assolaram o sertão nordestino.

Sobre a obra

Composição em décimas decassilábicas, metrificadas e rimadas. Cada estrofe termina sempre com o mote/refrão: Coloquemos em nossas orações/o sertão do Nordeste tão sofrido.

Sobre o autor

Orlando Queiroz, cearense de Quixadá, aposentado Caixa.
Fundador e atual presidente do Clube da Viola.

Co-Autor(es)
Intérpretes

REGINA CARLA CAMPOS |

Integrantes
Autor(a): JOSE ORLANDO AYRES DE QUEIROZ ()

APCEF/CE