As quatro estações

As quatro estações

Azul
Veja o céu, a água, a lata que não se decompõe
Brinque com formas mortas pelo infinito azul
Que ficam na memória do que não conheceu
In memoriam em bibliotecas
Empoeiradas e vazias
Nada se mexe no azul.
_ E agora, Iara?

Vermelha
Esse ardor que te queima
Escala as pernas e deixa teu ventre em chamas,
À espera, espero e peço um beijo seu
Mas ao lado o que vejo
Além das formas tortas e mortas que você corrói
Seus dedos longos espalhando-se pelas frestas
Onde não mais alcanço.
À espera.
_ Grita, Elza!

Verde
Já foste livre
Brotaste descalça em ninhos ferrugem
Andares nua sem pudor
Sem rancor e sem dor
Rimas pobres, nunca ri, agora és cinza
O verde apenas ficou na lembrança
De seus olhos mareantes e vidrados
Ao amanhecer.
_ Acorda, Dandara...

Amarela
Vazio ecoo seu ser
Esperança de alento
Com fome de vida
De algo que lembre a vida
Seus filhos acordam, exigem
Um peito à espreita
Se corte, se doe e alimente um a um
Até restar apenas
O nada, o início e o fim.
_ Abençoa, Maria?

Silêncio
Ouça ................... o
na Luz.

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Inspiração

Esse poema remete às estações de metrô da cidade de São Paulo, e é uma homenagem aos milhões de mulheres que por ali circulam diariamente, na luta diária para sobreviver e cuidar de suas famílias, muitas vezes sozinhas.

Sobre a obra

Versos livres, com a utilização de figuras de linguagem, metáforas e elementos urbanos para criar o texto. Referência também a mulheres lendárias, fortes e criativas, que nos inspiram com suas histórias: Iara, Elza, Dandara e Maria.

Sobre o autor

Sou poeta, paulistana, 55 anos. Há mais de 30 anos retrato nos versos percepções urbanas e livres. Acredito na liberdade de todos os seres e me incomodo profundamente com a robotização da sociedade, que parece nos deixar cada vez mais alheios aos seres vivos que nos cercam e amigos de máquinas, que não podem nos decepcionar ou questionar.

Autor(a): ELISA DE SA LAGO (Lisa Lago)

APCEF/SP