Renata e Seus 7 Maridos

RENATA E SEUS SETE MARIDOS

Renata, recém separada (pela sétima vez), cinquenta e poucos anos, magra, lindos olhos verdes, de uma jovialidade difícil de encontrar mesmo em quem é muito mais jovem, não passa um só final de semana sem que saia para dançar e se divertir. Aposentada, empresária, super ativa, sempre alto astral, desde a adolescência namoradeira que só; a mãe até hoje reclama do trabalho que teve para controlá-la e conta histórias interessantes dos namoricos dela nos idos de 1970, como o caso de um paquera que ligou próximo à meia noite para conversar com Renata e a mãe (ela diz que para descobrir as verdadeiras intenções dele) passou quase uma hora ao telefone se fazendo passar por ela e o cara até hoje não sabe quem verdadeiramente estava do outro lado da linha naquela noite. Outra interessante é a de um pretendente que ela fez passar pela porta dela às duas da manhã assobiando o Hino Nacional para provar que realmente estava muito apaixonado; ela garante que ficou esperando junto à janela que dava pra rua e garante que ele passou mesmo. Homem quando está apaixonado é assim mesmo, topa tudo. Outro caso foi o do pum: primeiro encontro com novo namorado, sentados num banco de praça, trocando olhares apaixonados, de repente ela solta um pum daqueles que fazem um tremendo barulho, em seguida toca a sorrir sem parar, o cara ficou maluco sem saber o que dizer nem o que fazer, mas isto não impediu que o namoro continuasse por algum tempo. Hoje com sete casamentos nas costas, todos terminando tão bem quanto começaram, sem muitos traumas e amigavelmente, com exceção de apenas um que foi o primeiro:

Número 1. O Grosso - Roberto, boa pinta, bigodão, forte, grandão, fotógrafo profissional, de uma grossura sem tamanho, típico matuto. Acho que foi ele quem fez com que ela nunca mais se ligasse muito a alguém, seguindo à risca a teoria que para terminar um casamento, basta começar. Pai de suas duas únicas filhas, vagante no mundo, deu trabalho já desde o começo. Como ele era separado e ela queria casar na Igreja foram numa em um bairro distante e marcaram a data prometendo ao Padre apresentar o Batistério no dia da cerimônia já que ele era de outra cidade e não tinha como pegar logo; como não podia ser apresentado mesmo tentaram no dia e hora do casamento dar a desculpa de que conseguiram pegar o documento, mas, em seguida, perderam. O Padre é claro, não acreditou muito nesta história, não adiantou Noivos, Padrinhos e Convidados tentarem convencê-lo; concordou apenas em celebrar uma Missa. Dito e feito, “Noivos” sentados no primeiro banco, Padrinhos ao lado, Convidados espalhados por toda a Igreja e o Padre rezando a Missa não esquecendo de dizer solenemente e a todo instante para a platéia atônita: - Caros irmãos, isto não é uma cerimônia de casamento, é apenas a celebração de uma Santa Missa. Um certo dia eles brigaram, ela chegou à casa dos pais por volta das 23:00h chorando e falando do ocorrido, o pai reuniu uns amigos e saíram rodando pela cidade procurando o suplicante, ele dizia que era só para conversar, acho, porém, que se o tivessem encontrado, Roberto nem ninguém da família dela nem dele nunca mais esqueceriam daquela noite, felizmente não o localizaram. Depois disto, separaram-se, e eis que para surpresa de todos, após alguns dias, olha lá eles juntos de novo... e assim viveram nesse casa, faz nenê, briga, separa, retorna tudo de novo, por alguns anos, até que ela tomou a decisão de separar-se definitivamente.

Número 2. O Sujo – este durou pouco. Segundo notícias que circulam faleceu num acidente alguns anos depois da separação. Após a primeira separação, além do trabalho na Repartição Estadual, resolveu aumentar a renda colocando na casa em que morava um pensionato feminino; um belo dia conheceu numa festa o Eduardo, dançaram, namoraram... Após alguns dias de namoro ele chega de mala e cuia no pensionato dela dizendo: - vim morar com você. Desempregado, sem nenhum plano futuro, andava com barba sempre por fazer, e parece que não era muito adepto de banho e muito menos do trabalho, lembro sempre do comentário da mãe dela a respeito do novo genro: minha filha, o anterior era somente grosso, este além de mal educado é porco e não quer nada com a hora do Brasil. Não demorou muitas semanas. Um belo dia ele saiu para “procurar emprego” e ao retornar encontrou as mesmas malas que trouxe, arrumadas na porta da casa com a determinação: - pegue suas coisas e suma de minha vida. Até hoje.

Número 3. O Acomodado – João, meio gordinho, baixinho, colega de trabalho, típica gente boa, dono de um fusquinha bege, toda a família gostava dele, admirador de uma cervejinha que só, às vezes até exagerava. Apesar de ter sido a relação que mais durou, ela disse que o motivo principal da separação foi a acomodação dele, pois trabalhava na repartição somente seis horas, das 07:00 às 13:00h, e quando chegava em casa, almoçava e tome-lhe televisão: Vale a Pena Ver de Novo, Sessão da Tarde, Programas de Entrevistas, etc. Fim de semana: praia, cerveja, televisão e umas rodadas de jogo Buraco. Parece com alguém que você conhece? É típica rotina da maioria dos brasileiros, mas ela não gostava desta acomodação e após alguns anos e muitas tentativas frustradas de fazê-lo mudar, encerrou o casamento numa boa.

Número 4. O Empreendedor – Rivaldo, alguns anos mais novo que ela, típico bonitão e bom vivant, fechadão, era de poucas palavras, talvez tenha sido sua maior paixão; assim como ela, gostava de sair, dançar e viajar, também desempregado, mas muito inteligente, logo que estavam juntos montaram um negócio na área de Vídeo que foi prosperando aos poucos e após alguns anos abriram uma filial. Sempre viveram bem, poucas brigas, apesar dele ser bastante ciumento e procurar controlar todas as ações dela, sufocando-a com certeza. Quando tudo parecia caminhar as mil maravilhas, olha a notícia da separação da Renata circulando entre parentes e amigos. Ela diz que foi de comum acordo, e por incompatibilidade de gênios; que se sentia muito dependente dele para tudo e não queria viver assim, etc. e tal. Enfim queria viver uma vida mais independente. Resultado: uma filial da loja para cada um e até hoje são muito amigos e confidentes.

Número 5. O Segurança – Francisco, fortão tipo Maguila, bem moreno, também bem mais novo que ela; sabe aquele cara que todo mundo dizia que não tem nada a ver com ela? Era ele. Mas ela se sentia protegida com ele, foram até brincar um carnaval no meio da multidão nas ruas de Salvador, afinal ninguém tinha coragem de encostar neles. O homem era forte mesmo. Cliente não quis pagar as compras da loja, lá vai o homem cobrar, com certeza trazia o dinheiro. Mas tinha alguns modos terríveis: pum pra todo lado e a toda hora, meleca do nariz tirava na sala ou qualquer lugar, numa boa. Gostava bastante de futebol (ela detesta). Enfim, tinham todos os requisitos para não dar certo, e não deu. Alguns poucos meses se passaram e olha a Renata separada de novo!

Número 6. O Dorminhoco – Sérgio, coroa simpático, mais ou menos da idade dela, bom papo; sabe aquele cara que parece que foi feito para ela? Parecia ser ele. Puro engano. Desempregado, cheio de planos, mas, vá gostar de dormir (durante o dia) assim, lá no raio que o parta. Ele passava a noite toda assistindo filmes em vídeo e comendo pipoca (tinha que ser pipoca feita no microondas) até o amanhecer. Seis horas da manhã: hora de dormir, que ninguém é de ferro, para poder recuperar as forças para a noite vindoura que será longa assistindo novos filmes, não esqueçendo da pipoca e do microondas. Não precisa falar que não durou muito; um dia quando ele se preparava para mais uma noite de muito filme notou que o aparelho de DVD não estava na estante, ele se dirigiu ao quarto e perguntou para ela: - cadê o DVD? Recebeu como resposta: - ta no pensionato que você morava, vá assistir a seus filmes lá. Ele foi e nunca mais voltou.

Número 7. O Par Perfeito – Carlos, separado várias vezes (lembrou alguém?), alguns anos mais novo que ela, gordinho, daqueles que gostam de comer muito, muito simpático, parecia ser a paixão definitiva dela. As duas famílias ficaram bastante satisfeitas com a união. Ele a levou a aventuras antes inimagináveis; era caminhoneiro e lá se foi ela por este Brasil a fora de caminhão. Ela sempre contava estas aventuras com o maior sorriso, mas, decorridos alguns meses a Renata andava meio cabisbaixa, tristonha, falando em separação, que havia deixado de gostar dele, etc., etc. Mais algumas semanas... Cada um pro seu lado.

Quarta feira, 21:00h, véspera de feriado, chego na casa da Renata, uma grande amiga, ela está se aprontando para sair. Conversamos alguns instantes sobre as coisas do dia a dia, quando ela, de repente, para um pouquinho, olha para mim e com um sorriso comenta: - vou sair com um rapaz que conheci alguns dias atrás; tô pensando que vamos nos casar...
FIM

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Inspiração

Eu e a a Renata do título somos até hoje muito amigos, acompanhei de perto cada casamento dela narrado no conto, e cada um deles muito característico junto com algumas situações hilárias que ela me contou foi a inspiração para escrever

Sobre a obra

Narrativa em primeira pessoa de alguns acontecimentos geralmente muito divertidos na vida conjugal de uma grande amiga.

Sobre o autor

Passei alguns períodos onde escrevi alguns contos sempre baseados em fatos reais vividos, mas nunca mais tive inspiração para novos, mesmo aposentado. Nunca consegui criar uma história, todos os contos que escrevi, acho que seis, foram narrações de situações ou fatos vividos por mim.

Autor(a): JOSE LEOLINO DE AVILA FILHO (Zelitinho)

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