Oxum a Senhora das Corujas

Oxum Alówiw!
" Oxum, A Senhora das Corujas! "

Contam os negros velhos africanos que, há muitos e muitos anos, o céu do meio dia de repente ficou preto.

Falavam que o dia virou noite e a noite virou dia. As nuvens estranhamente se tornaram escuras e densas, a lua apareceu brilhante no infinito...

Um piado estridente anunciou a noite e logo se transformou em um longo assobio. Uma coruja branca, imensa, com suas asas platinadas, bico dourado, sobrevoou silenciosamente a terra, parou sobre a montanha karé e, de forma insistente, perfurou o chão uma, duas, três vezes, muitas vezes...

Batia seguidamente com o bico na terra.
Aos poucos a terra foi cedendo, se esparramando pelos lados. O seu bico, duro como marfim, perfurou a montanha e fizera brotar uma nascente de água pura e cristalina, que escorreram sinunciosamente montanha abaixo, saciando a sede de muitos...

A coruja tornou a piar, elevou suas asas, de brilho extraordinário e rara beleza, voou...
Suas asas cobriram a lua, que se recolheu, à noite murchou misteriosamente, desapareceu no horizonte. .
O Sol saltou claro, fazendo-se do dia, num céu cor de salmão, avermelhado, anunciava um belo final de tarde.

Tudo voltou ao normal.

A nascente se transformara num belo Rio, que desaguava numa lagoa chamada Olobó.

Olobó era uma lagoa gigantesca, bela, de leito anecrepê e abamudá; folhas olentes de manjericão lhe cobriam às margens. *Olobó* era a Mãe da Beleza.

O Rio se acostumou a desaguar naquela velha e bela lagoa, abrasada pelo sol. Com seus enormes redemoinhos, repuxados colossais e cores estranhas.

Mas um dia, um dia! O Rio se cansou, não queria mais desaguar na Lagoa Imensa.
Queria voltar para fonte...

Olubá, a Velha Lagoa, perguntou:
- Quem és tu?

O Rio respondeu:
- Sou Ibajimu, descendente dos Orixalas.

A Lagoa então disse:
- Não podes mais partir!

O Rio não se conteve, atirou-se em prantos num caminho sem volta. Lutou, lotou, tudo em vão, teve de parar.

Irritado e impotente, o Rio falou:
- Eu sou caldoloso, sou forte, sou guerreiro, persistente... Ninguém é mais do que eu!

Olobá, a Grande Lagoa, fez um silêncio profundo e proferiu:

- *Eu sou!*

Só partirás se fizerdes um ebó e ofereceres aos meus pés.
Se não se dobrares, nunca mais partirás.
Para sempre, aqui ficarás...

O Rio se curvou e falou:
- Eu faço.

A Grande Lagoa replicou:
- Estás pronta para comer o Pão com o suor do seu rosto, sem entornar a erva, que amargarás em sua boca?

Respondeu o rio:
- Eu estou.

A Velha Lagoa viu então que havia paixão nos olhos do rio...

Acenou discretamente para o horizonte.

Novamente, uma nuvem se formou. Do seu centro, uma coruja branca surgiu.
O seu piado se transformou em um canto. O seu canto varreu o dia. Então se ouviu um clongar de trovões, as árvores se partiram, a terra se embebeu e, no mesmo instante, se formou um enorme temporal...
A noite engoliu à tarde e, quando à noite se fez dia, o Rio já havia retornado para montanha Karé.

O grande Rio se fez fonte.
E a fonte cristalina se fez nascente...
E a nascente se tornou um Lugar Sagrado ( *Igbá* ), de lágrimas meigas e cristalinas.

Contavam que Igbá era capaz de se transformar em coruja, uma imensa coruja (bruxa) branca e jorrar como um rio...

A esse Lugar Sagrado, os negros velhos africanos, batizaram de *Ibajimu.*.
A Nascente dos Olhos Meigos.

Ora Yê Yê, Oxum
Yê, Yê Ô!

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Inspiração

Itans designa um conjuntos de mitos, canções,historias e recitações da cultura yorubá que circula há milênios no mundo. Como forma de resistência, de manter viva a cultura de um povo, rememoro historias ancestrais dos orixás do candomblé. Entendemos na força , na magia da palava; "axé", como um dos principais elementos de identidade de um Povo,

Sobre a obra

O itan é uma narrativa que resgata e traz sempre uma lição ética. O oráculo nagô traz 16 Odus básico, que são historias fundantes, Essas 16 histórias se multiplicam por 16, formando 256 historias que são os Itans, que por sua vez podem se multirplicar por mais 256. Portanto, conhecer e explicar a existência passa por conhecer esses mitos.

Sobre o autor

Carlos Alberto, Carl .ANA KEY e MBA em Marekting Estratégico pela UNIFACS. Casado,três filhos. Lotado atualmente na Ag. Ilhéus/BA.Ativista negro, participa de diversos coletivos, dentre eles a ASSANCRI, AMATA. É um dos coordenadores do Grupo de Terreiros de ILheusBA. Preside o Conselho Fiscal Nacional da ONG MORADIA E CIDADANIA.

Autor(a): CARLOS ALBERTO ARAUJO DOS SANTOS (Carlos Alberto - Alaboji)

APCEF/BA

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