Talentos

Sexta Hora

SEXTA HORA

Tchau querido, hoje só faço seis horas tá! Estou indo..., grita-lhe a esposa da porta do apartamento já entrando no elevador.


PRIMEIRA HORA: Levanta-se lépido e ágil, toma rápido seu banho e prepara-se para sair. Toma o volante e dirige-se para a periferia da cidade. Ao chegar no bairro pobre, encosta o veículo na esquina da rua de chão batido, desce por três casas e bate palmas. A senhora que o atende da porta do casebre, grita: Ela já vai, seu Justino, e grita, (agora para dentro), vai logo menina, o patrão chegou!!
Da modesta casa vem uma menina de quatorze anos, porém ao se ver de longe, parece ter seus dezenove, um corpo bem desenvolvido. Andam até o carro do “patrão” e seguem rumo à rodovia.


SEGUNDA HORA: Chegam até a cidade vizinha, apenas doze quilômetros, e o carro segue até um pequeno prédio de apartamentos populares. Ao parar no portão de acesso, o porteiro chega até a janela do motorista, dá a mão ao aperto, e leva de volta entre os dedos uma nota de cinquenta,
Sem elevador no prédio, sobem os quatro lances até o pequeno “lar” do senhor distinto, que gentilmente abre a porta para sua acompanhante. Dentro do apartamento, já à vontade, os dois se submetem às práticas indecentes que vemos em novelas e revistas.


TERCEIRA HORA: Após algum tempo de conjunção carnal e proibida, (não muito tempo , devido à idade do patrão), algumas fotos que guardará para relembrar seus atos vis, resolvem banhar-se para a volta aos respectivos lares, e também para que não levantem muitas suspeitas, pois para os moradores do bloco de apartamentos, a menina é apenas a faxineira semanal do distinto senhor. Um senhor acima de qualquer suspeita, chamado de professor pelos vizinhos.


QUARTA HORA : Saindo da cidade, passam por um shopping beirando a rodovia, onde o casal entra para umas pequenas compras, que mensalmente o professor faz para a sua, digamos, pequena aluna. Duas lojas de roupas, uma de sapatos e um sorvete depois, os dois rumam para o bairro distante, onde mora a pequena e sua grande família, contou ela ao professor que são oito irmãs, e o pai, preso, não teve nunca como sustentar, e a mãe agradece as faxinas que ela faz, que ajudam um pouco no parco orçamento da casa, matriarcalmente mantida pela dona Filó, sua mãe, com o ganho de coleta e venda de recicláveis.



QUINTA HORA: Ao deixar a menina em casa, gentilmente deixa uma nota de vinte entre os seios dela, que fartos, quase pulam da modesta blusa que usa. Pede para falar com dona Filó, que o atende de pronto. Com um sorriso de poucos dentes, Filó ouve o pedido do patrão, que na semana
seguinte solicita que outra filha vá fazer o serviço para ele: Aquela mais novinha dona Filó!, a de treze, tá na hora dela ganhar um dinheirinho também. Agradece e se despede com mais uma nota de vinte, e segue o rumo de seu luxuoso condomínio.


SEXTA HORA: Sai do elevador para o hall de seu andar, assobiando e contente com sua tarde semanal de perversão e luxúria, devassidão e crime, assédio e desonra. Entra em casa e se posta ao computador (esperando a esposa), com pose e porte de quem trabalhou duramente verificando as finanças, as empresas a quem assessora e presta consultorias, que lhe proporcionaram uma vida boa e rica, um nome respeitado entre seus pares. Enquanto se entrega aos devaneios sexuais em sua mente podre e vil, não há um momento sequer de arrependimento ou vergonha, mas sim de satisfação por estar, ou se supor acima dos outros, achar que pode controlar a vida de pessoas humildes, que não fazem ideia do que acontece com seus filhos e filhas, nem se perguntam o porquê de roupas, tênis, sapatos e coisas que não podem comprar estar em seus armários. Ele compra corpos e silêncio com seu dinheiro, achando que está comprando almas para si. Os prazeres que tem não são compartilhados, pois essas almas compradas sabem do erro que cometem, mas viciaram-se no pagamento recebido semanalmente, sentiram um pouco de soberba a desfilar no bairro com esses luxos, luxos que atraem outras almas, que esse podre comprador divide com seus amigos, velhos e fétidos como ele, rançosos e asquerosos senhores de nossa sociedade podre e rica.
O barulho das chaves na porta o tiram de sua masturbação mental, a esposa entra e diz: Olá amor, olha a surpresa de hoje!!!, e por trás dela surge uma linda garotinha de sete anos, que corre em sua direção, gritando vovô! vovô! Que saudade de você, e pula em seu colo. Ele a beija na testa e de mãos dadas vão para a cozinha. E ele deixa seus devaneios para mais tarde.


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Inspiração

Uma visita a parte escura do cérebro do ser humano.

Sobre a obra

Notícias policiais, Relatos obscuros e imaginação dos que leem.

Sobre o autor

Sou empregado da Caixa há 15 anos, escrevo sempre, tenho textos publicados nos concursos do GENTE DE TALENTO, também sou membro da ACADEMIA SOROCABA NA DE LETRAS, titular da cadeira 31 que tem como patrono NELSON RODRIGUES.

Autor(a): FABIO ALEX THEODORO DE MORAES (FALX)

APCEF/SP