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SOLTANDO AS AMARRAS: A HISTÓRIA DE GERMANA

SOLTANDO AS AMARRAS: A HISTÓRIA DE GERMANA

“A vida é maravilhosa, porém muito breve! Por isso, temos que aproveitar todo o tempo que dispomos para viver com alegria, otimismo, e principalmente, muito amor no coração. Sentimentos negativos, só nos fazem perder tempo e energia!”

Ter sido abandonada por sua mãe quando era apenas um bebê, refletiu no emocional de Germana. Ela foi abandonada na porta do orfanato, e por causa da cor da sua pele, nunca conseguiu ser adotada até atingir a idade adulta, não sendo mais possível permanecer ali. A opção que lhe restou foi entrar no mercado de trabalho e dividir uma casa com outros jovens na mesma situação que ela. Germana conseguiu uma vaga de ascensorista num edifício comercial. Assim, a vida foi seguindo o seu curso. A jovem era extremamente disciplinada e cumpria à risca o seu horário de trabalho.
Havia no edifício um empresário a quem todos se referiam como o “Doutor Arnaldo”. Era muito respeitado por todos pela sua conduta moral. Sempre que entrava no elevador, fazia questão de cumprimentar Germana - a ascensorista, fazendo-a sentir-se gente, já que a grande maioria a ignorava. Era como se ela fosse invisível!
A moça notou que o Doutor Arnaldo começou a tentar puxar conversa durante o tempo que estava no elevador, principalmente quando estavam sozinhos, o que era raro acontecer. Os seus sentidos entraram em alerta no dia em que ele a convidou para fazerem um lanche após o expediente, mesmo ele fazendo questão de frisar que não havia nenhuma segunda intenção no seu convite. Na cabeça de Germana, um homem branco e rico não poderia querer outra coisa com uma jovem pobre e negra que não fosse sexo, mas mesmo assim, aceitou porque não queria falar todos os desaforos que pretendia no seu ambiente de trabalho.
Mas para sua surpresa, “Doutor Arnaldo” comportou-se como um cavalheiro, tratando-a como nunca tinha sido tratada por ninguém na sua vida. E dali pra frente os dois passaram a lanchar juntos ao menos uma vez por semana até o dia em que Arnaldo se encheu de coragem e declarou-se pedindo-a em casamento. Germana levou um grande susto porque mesmo completamente apaixonada por aquele homem, a sua baixa auto- estima não permitia a ela imaginar-se casada com ele, que aos poucos, foi se revelando ser a mais maravilhosa das criaturas que ela conheceu.
Germana afirmou que só responderia a sua proposta depois que ele soubesse de sua história. Falou que se depois de saber de sua origem, ela lhe daria uma resposta e que compreenderia se ele voltasse atrás. Ele assentiu, e ela pôs-se a narrar toda a sua trajetória de vida. Quando terminou, Arnaldo retirou do bolso do paletó uma pequena caixa onde havia um lindo anel. O homem olhou em seus olhos e afirmou que o passado não importava. O que importava seria o futuro que os dois poderiam construir juntos se resposta dela fosse um “sim” à sua proposta. O “sim” de Germana veio acompanhado de muitas lágrimas.
Casaram-se e tiveram 03 filhos: Gabriel, Antônio e Elisa.
O que parecia ser um conto de fadas, aos poucos começou a se desfazer, pois Germana enfrentou uma forte resistência na família de Arnaldo que era extremamente racista, bem como na sociedade, onde existiam muitas candidatas disputando o coração do rapaz, considerado um ótimo partido. A jovem esposa suportou muitas ofensas de fundo racista, e aos poucos, foi perdendo o entusiasmo pela vida.
O fato de ter sido criada num orfanato e a forte rejeição que sofreu dentro da família do marido e na sociedade marcou profundamente a personalidade daquela mulher que mesmo depois de ter cruzado o seu caminho um homem com quem constitui uma bela família onde não faltava conforto e amor, continuava a ser triste e sisuda. A depressão e melancolia eram suas companhias constantes.
Em vão o marido e os filhos, em especial a sua filha Elisa, tentavam tirá-la daquele estado de ânimo. Viam frustrados, a esposa e mãe mergulhar cada vez mais fundo naquele poço de abatimento.
E foi com surpresa e medo que aquela família recebeu o diagnóstico de que Germana estava com câncer! No começo, ela se entregou! Ficou arrasada! Sentia muita pena de si mesma, pensando que estava sendo punida sem merecer.
Berenice era sua vizinha e uma das poucas amigas de Germana, já havia tentado por diversas vezes levá-la ao centro espírita onde ela frequentava e trabalhava, mas sempre ouvia a mesma resposta negativa da amiga. Mas mesmo assim, e diante daquele momento difícil, tentou novamente e Germana aceitou. No seu entender, não custava nada tentar mais uma opção de tratamento! E foi durante o seu tratamento espiritual que aconteceu ao mesmo tempo que o tratamento convencional, que Germana pôde então entender e ver a vida de outra forma. Aquela doença que lhe causava tantas dores, foi aos poucos também lhe ensinando muito! Começou então a reagir e a querer vencer aquela luta, que foi longa!
Conseguiu recuperar-se e voltou aos poucos, às suas antigas atividades. Mas, começou a enxergar a vida sob outra perspectiva. Passou a observar detalhes que até então não enxergava. Parecia que o verde da natureza estava mais verde. Ficava horas observando as atividades dos passarinhos, das formigas. Enfim, a natureza de um modo geral, passou a ser o foco de sua atenção.
Passou a valorizar mais a convivência com a família. Ela que já era mãe e avó e até então, só fazia queixar-se e sentir pena de si mesma, surpreendeu a todos quando começou a brincar com os netos. Se sentava no chão para curtir os pequenos. Ria muito com eles! A casa começou a ficar mais harmoniosa. Finalmente percebeu que a felicidade que ela pensava que era algo que jamais alcançaria, estava muito perto: dentro dela.
O tempo passou, os netos cresceram, mas a relação com eles continuou muito boa!
Depois de sentir alguns sintomas diferentes e após fazer uma bateria de exames, Germana foi informada por seu médico que o câncer havia voltado, e em vários órgãos. Reagiu de maneira bem diferente entendendo que Deus havia lhe dado uma segunda chance para que ela enxergasse tudo de bom que ele havia lhe proporcionado, mas que em atitude egoísta, se recusava a ver. Sentiu que tinha que ser grata pela chance que lhe foi dada, mas que a hora de partir estava chegando.
Seguiu todas as orientações médicas, mas pediu à família que não queria ser hospitalizada para morrer no meio de um monte de aparelhos. Ao contrário, preferia estar junto e rodeada por eles. E assim se fez!
Ela se manteve lúcida até o último minuto! Teria sido lindo se não fosse a dor e as muitas lágrimas de seus familiares, pois o quarto encheu-se de luz e foi invadido por seres iluminados que lhe estendiam as mãos! Partiram numa viagem maravilhosa! Germana viu o mundo ficando cada vez menor como ela imaginava que deveria ser uma viagem espacial! Da família, apenas Elisa conseguiu ver tudo, e dividida entre um sentimento de êxtase e de imensa tristeza, viu a sua mãe sendo recolhida envolta de muita luz!
Uma vez do outro lado, e depois de passar por um período de tratamento num hospital espiritual, Germana teve alta e foi autorizada a trabalhar. Quando chegou no local onde iria servir, ficou muito emocionada porque teria que trabalhar com crianças que chegavam naquele local em consequência de abortos ou mesmo de mães que as jogavam no lixo ou bueiros na tentativa de fugir da responsabilidade. Ao ouvir o choro daqueles pequenos, sentiu a dor daqueles seres indefesos ao serem abandonados. Compreendeu então porque teve que passar por todo aquele processo de doença e que foi na verdade também de aprendizagem e reforma interior. Aquela “antiga” Germana triste e amarga jamais conseguiria consolar alguém que sofrera a mesma dor que ela.

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Inspiração

o momento em que o mundo está atravessando serve para refletirmos sobre respeito ao próximo

Sobre a obra

esta é uma obra de temática espírita

Sobre o autor

não sou uma escritora, mas gosto de vez em quando escrever sobre temas atuais e do cotidiano

Autor(a): LAUDICE DA SILVA MEDEIROS (lau silva)

APCEF/MS