PARTI(n)DO

A cada um que parte, me parto.
Esfacelo-me, fragmento.
A cada tchau não dito,
me sinto um pouco maldito.

Se me sinto exausto,
Se digo que não aguento,
É dor, é desgaste
da minha humanidade.

A história do promontório,
Um parto difícil,
com suicídio do pai.
Uma arma esquecida
no fundo da mochila,
Esperando a hora de partir.

Me parto e não minto.
Esfacelo bem aos poucos.
Numa longa fila
à beira do Estige
onde o promontório cai.

Preciso disso.
Preciso sentir.
Se não sangro tinta,
esse sangue pisado
não permite que eu minta
até que tudo tenha entornado.

É hora de partir,
a fila está andando.
Se me mantenho a doer,
é por não importar quando
me partirei mais uma vez.

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Inspiração

Estamos tão à flor da pele, diante de tanta dor, que se obrigar a sentir é um trabalho consciente.

Precisamos nos importar. Precisamos no cuidar. Precisamos nos amar.
E nessa jornada, Hemingway, Zeca Baleiro e Drumond nos ajudam a lembrar que é essa empatia que nos faz humanos.

Sobre a obra

Trabalhando com a volatilidade de homônimos, busquei retratar a conexão entre nossa fragmentação e as pessoas a quem dissemos adeus, muitas vezes prematuramente.
Assim, construo uma jornada dantesca onde nossos passos inexoráveis nos levam a um destino sempre assustador, mas cada vez menos temido.

Sobre o autor

Publico em plataformas digitais desde 2014.

Participo também de vídeos de resenhas e dicas de escrita no canal Papo de Autor, no YouTube.

Autor(a): PAULO ROQUE GOULART VALENTE (Roque Valente)

APCEF/SP

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