Mandacaru: Solidão Agreste

Os mandacarus não servem
de abrigo aos passarinhos:
Não tem folhas nos seus galhos
para a proteção dos ninhos,
parecem com espantalhos
perdidos pelos caminhos.

Crescem e vivem sozinhos,
cumprindo uma triste sina:
Não dão sombra pra quem passa,
nem protegem da neblina,
verdes esqueletos vivos
na paisagem nordestina.

Vestem a mesma batina
no inverno e no verão,
sempre de braços abertos
nos dando a nítida impressão
de um crucifixo de espinhos
no calvário do sertão.

Tão solitários estão
apesar de serem tantos!
Não sentem os pés dos pássaros,
apenas ouvem seus cantos,
talvez a reserva d'água
seja acúmulo dos seus prantos.

Desprovidos de encantos,
distantes da perfeição,
carentes de companhia
são vítimas da solidão,
braços erguidos pra o mundo
ninguém segura sua mão!

Em qualquer tipo de chão
ele cumpre o seu destino:
Não se curva à tempestade,
não se rende ao sol a pino,
heroicamente resiste
como qualquer nordestino.

Seja grande ou pequenino
padece o mesmo desgosto:
Seus espinhos, finas lanças,
perfurando corpo e rosto,
talvez por esse motivo
seu coração fique exposto.

Nunca vai servir de encosto
pra o descanso das gazelas;
De palco para o concerto
das sabiás amarelas,
nem pros jumentos cansados
coçarem suas costelas.

Perto de árvores mais belas
ele só se martiriza:
Não baila ao sabor do vento,
não treme ao sopro da brisa,
nem sente cócegas das unhas
da lagartixa indecisa.

Seu corpo ninguém alisa,
sua roupa ninguém veste,
impávido, contemplativo,
símbolo maior do Nordeste,
resignado suporta
toda a solidão agreste.

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Inspiração

Por ser sertanejo aprendi a admirar os mandacarus, pela resistência deles à seca e aquela aparente solidão em que eles vivem.

Sobre a obra

Para a construção do poema foi empregada a mesma técnica utilizada pelos repentistas nordestinos: sextilhas metrificadas em redondilha maior.
O primeiro verso de cada estrofe rima obrigatoriamente com o último verso da estrofe anterior.

Sobre o autor

Cearense, nascido na fazenda Alto da Pedra, Quixadá/CE, no dia 25 de Agosto de 1958, aposentado da Caixa.
Filho de Maria Zuleida e Pio Nogueira de Queiroz, casado com Vera Queiroz, pai de Iara Maria e Pedro Henrique.

Autor(a): JOSE ORLANDO AYRES DE QUEIROZ (José Orlando Ayres de Queiroz)

APCEF/CE

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