Talentos

Quaró 764

Quarto 764
Se não fosse trágico seria cômico..

Começo essa história com a minha internação num tradicional hospital de Belo Horizonte. Cirurgia simples para retirada de um ovário. Espero numa sala, antes de entrar para o bloco cirúrgico. Final do corredor, uma sala em frente à outra e dois computadores no centro do mesmo. Espero lá, cerca de meia hora. Na sala em frente à que eu estava, uma gestante prestes a dar a luz gritava muito, numa certa frequência. Eu apavorada com a minha cirurgia e solidária com a minha vizinha gestante. No quarto dela, um entra e sai sem fim. A porta aberta me deixa entreve-la já sem roupa, numa total falta de privacidade. Um médico e sua assistente, assentados nas mesinhas dos computadores conversam e riem a valer. Finalmente me chamam para o bloco e é um alívio sair dali.
A cirurgia evolui bem e num piscar de olhos já estou no quarto. A minha acompanhante me diz que o cirurgião ligou para o quarto e disse haver retirado os dois ovários. Ela questionou-o se eu estava ciente e ele disse que na minha idade o ovário não tinha mais utilidade, havia possibilidade de dar problema futuro, então optou por extrair os dois naquele momento. Imediatamente penso que ele retirou o ovário errado e assim que percebeu retirou o outro,mas isso eu nunca saberei...Ainda sonolenta da anestesia durmo e acordo sem saber bem onde estou. A partir desse momento o efeito da anestesia vai passando, tento levantar mas tenho a sensação que vou desmaiar e volto a deitar-me. À tardinha a médica assistente vem ver como estou e quando questionamos o porquê da retirada dos dois ovários, ela não sabe, diz que só tinha ciência da retirada de um ovário e iria se informar melhor. Eu estava muito fraca pois não conseguia comer nada, não conseguia ficar de pé e ela insistia em me dar alta. Mas eu não tô conseguindo me levantar...Ela vai lá fora, diz que realmente haviam sido retirados os dois ovários, não tinha maiores informações e eu passaria a noite lá, pois estava insegura quanto a minha saída.
Eu me sentindo enjoada, com muita dor de cabeça começo a escutar o som vindo de um piano, maravilhoso; mas me soou totalmente inoportuno nas próximas duas horas. Na calada da noite, muito barulho dos carrinhos com o jantar, pratos e talheres caindo ao chão, risadas escandalosas vindas da central de enfermagem... Pareceu-me que a minha cabeça ia explodir, já com muita ânsia de vômito, entro no banheiro e consigo finalmente colocar alguma coisa do estômago pra fora. Que alívio! Havia pedido um remédio para dor de cabeça mas era hora da troca de plantão e ele nunca chegou. A noite passa vagorosamente, como que querendo me fazer ficar mais. De manhã, recebo alta e saio sem olhar pra trás. Até nunca mais!

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Inspiração

A partir de uma internação num hospital em Bh, fiquei traumatizada e escrevi….

Sobre a obra

É uma histórias real, falo de sentimentos.

Sobre o autor

Nem sempre consigo me expressar com palavras, mas fiquei muito “mexida” com essa internação e coloquei pra fora, escrevendo.

Autor(a): MARISE PIMENTA DE PAULA (Marise Pimenta)

APCEF/MG