Talentos

A despedida

A pressa não me deixou dizer adeus, pois a partida era urgente
Se não fosse uma despedida, seria uma partida, se não fosse a partida não haveria despedida, mas foi tudo junto de uma única vez, tive que partir e nem juntei meus ‘panos de bunda’, a pressa foi tanta que vi meu chão tirado de mim, com os meus olhos que o chão haverá de comer, se ainda houver chão depois de tudo; vi ruir sonhos e lembranças, vi doer no irmão a mesma dor que doía em mim e nos meus, que atônitos viam tudo ranger, sem saber o que era exatamente que se passava, mas era forte e estranho, o lamento uivado do cão que abandonado ficou sob os escombros, inocentes seres que foram preteridos de um convívio por um sórdido sentimento, o da ganância, e o capital violentamente trouxe desgraça, devastou um espaço que perdeu sua temporalidade, perdeu sentido pois tudo se transformou em ruínas, restam as lembranças das cenas vividas em um passado distante da boemia e da histórica cultura das quermesses das praças e do palhoça junina que aglomerava com alegria. Lá se foi tudo, literalmente solo abaixo, lá se foram os arrebóis contemplados dos casarios e das sacadas que se debruçavam sobre a vista da lagoa, que de boa, afundou junto com sonhos. Levaram tudo, as riquezas do solo e lembranças das mentes, os insanos vivem sob a glória do acúmulo de riquezas e destroçam vidas, lares, amizades e convívios. Roubaram vidas, saquearam a história e as lembranças.
Foi uma triste despedida, que tinha data marcada, mas não avisaram a ninguém, o tempo trouxe o expresso da saudade que fez embarcar na estação da vida todas as vidas que ali estavam, hoje o trilho solitário já não tem mais o seu expresso carregando vidas, apenas a solidão do tempo faz corroer o resto das lembranças traduzidas em dor. Saudades eternas dos que tiveram que partir, mesmo que em vida, foi um funeral abrupto e brutal, pois o féretro jaz vazio, mas cheio de dor, saudades. O adeus foi sarcástico e irônico, capitaneado pela estupidez humana. O expresso partiu da estação depois que anunciou o seu último apito, se foi e levou consigo vidas, mas deixa um imenso vazio de dor, desolação e uma devastação incomensurável.
Tivemos que dizer adeus e despojar nossos corpos em alhures, mesmo sem vontade própria, fomos compelidos a partir sem destino, sem rumo e sem dignidade, na mala apenas a certeza de que a despedida teria que ser urgente para que não se tonasse definitiva.

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Inspiração

Diante da ganância capitalista, aliada com a conivência dos poderes públicos que resultou em tamanha tragédia, resolvi registrar tudo em obras para assim denunciar para que todos tomem conhecimento do que está ocorrendo com 3 bairros populosos e tradicionais de Maceió, é preciso que saibam o que fez a Braskem em nossa cidade!

Sobre a obra

A inspiração veio de berço!

Sobre o autor

Eclético em termos de arte, pois transito na pintura, desenho, video maker, composição, literatura, stand up e outras façanhas. Tudo isso de forma espontânea e bem descolada, sem o compromisso de ser o melhor, apenas ser eu mesmo!

Autor(a): JOSE DE ARIMATEA LAFAYETTE SOUZA (Arimatea Lafayette)

APCEF/AL