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Iroko
IROKO, O Senhor de Todas as Árvores!
Yayá Maria, era um negra alta, magra, olhos brilhantes, e faces de índia. Minha tia e madrinha era uma líder do nosso povo, uma Iyalôde, senhora do poder feminino. Um dia, ela me levou a Lagoa Encantada dos Negros, e me falou que aquele lugar era sagrado para nosso povo. Representava a purificação da vida, onde, fugindo, os negros quilombolas podiam parar para repousar, saciar e sede e matar a fome. Ali, afiavam suas armas e ferramentas, alimentavam suas almas na presença de Oxalá e recarregavam sua energia e a vitalidade à Sombra de Iroko. E me mostrava a enorme gameleira branca, que havia se plantado às margens da lagoa. Essa árvore representa o tempo, falava ela. A ancestralidade. A ela devemos nossas vidas! A Gameleira representa a luta do nosso povo. Ele, Iroko, é a essência e o equilíbrio da criação sobre o Aiyê. O poder da terra que ensina aos homens o sentido da vida. Em seguida me pôs sentado e começou a ensinar de boca a ouvido, quase uma oração, como sempre fazia:
Contam os mais velhos, que no início de todos os tempos, os Orixás FunFun decidiram plantar um deles mesmo na Terra, Iroko, o Orixá da Árvore Sagrada. Sendo assim, os Orixás puderem descer com mais facilidade através da Árvore e começaram o trabalho de povoar a terra e dar toda a vida à ela.
Um belo dia, dois homens começaram uma terrível discussão próximo a Iroko, a qual envolveu até mesmo os Orixás, todos eles começaram a brigar, estavam presentes Oxalá, Exú, Xangô, Ogum, enfim, todos eles. Mas os humanos não os percebiam.
Os humanos não podiam vê e nem sentiam a presença dos Orixás, no fervor da discussão, Exú soprou um pó, que ao toque do adarun transformou-se em raio, e este matou um dos homens que brigava, e mais um, e mais um... E até uma outra pessoa que assistia. Todos ficaram terrivelmente assustados...
Correram de um lado para outro, dalí para acolá, tentando se salvar; e nada. E tome mais um raio, e outro raio... E o corre, corre espantado de todos! De um lado para o outro, de um outro para todos os lados.. O arerê e o alarido estabelecido, correndo solto, gritos, pulos... O cáos!
. E Exu só sorrindo. (hahahaaaaaaaaaaáaaahaaaaa). Dobrava de tanto rir.
Exu observava e sorria. Sorria e observava. Impassível!
Desta forma, o povo ficou aterrorizado e chegaram a conclusão que aquilo era “coisa feita”, “feitiçaria”, e que só podia ser força dos Orixás. E se voltaram contra os deuses.
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Revoltados com a blasfêmia da humanidade, os Orixás começaram a devastar toda a vida na Terra, então, vendo tamanha barbaridade, Oxalá foi até Olódùmarè, pedir sua intercessão, aos pés do Senhor de Tudo falou:
- Kosi Obá kan afi Olorun! (Não há outro senhor, senão o Senhor dos Céus), venho pedí-lhe que salve a terra e todos os humanos da morte.
Olorun, ouviu silencioso e então resolveu lançar seu olhar sobre o Aiyê. Observou toda aquela tristeza acontecendo, resolveu ajudar e parar com aquela aniquilação de seu povo, em sua misericórdia, ele chamou por Iroko e soprou sobre ele seu Efuru (o poder da vida).
- Efururuuuuuu, efururuuuuuu, efurururu... Repetiu por três vezes.
E no mesmo instante, Iroko criou fortes raízes na Ayê (terra) e começou a crescer, a crescer, a crescer, a crescer... E quase atingiu o Orun (céu).
Com o descontrole do crescimento de Iroko, Olorun se viu obrigado a soprar o atin (pembá branca), que fez surgir densas nuvens e encobriu a visão de Iroko, impedindo também seu crescimento, pois ninguém poderia olhar diretamente na face de Olorun. Após esse evento, Olorun pediu para chamar Oxalá.
O velho chegou alquebrado, trôpego e se arrastando, Havia envelhecido muitos anos de tanta tristeza em seu peito por ver seus filhos, suas criações, serem destruídas. Por amor e compaixão a Oxalá. Olorun pegou um galho do Iroko e entregou a Oxalá, para que pudesse se apoiar e lhe disse:
- Meu filho, com este galho, faça um cajado sagrado, O Opaxorô! A partir de agora, você controlará o destino da humanidade, ande sempre com ele. E ele, e apenas ele; lhe conferirá o poder. E caberá a você, e somente a você: por e dispor de como viverão os homens e mais ninguém poderá destruir a sua criação. Ele, o Opaxorô terá três céus, que demonstrará a sua supremacia sobre o mundo dos homens, dos espíritos e dos Orixás. Com ele irrigará a terra e vitalizará o mundo. E na ponta, Eu pousarei o pássaro mensageiro, um aylé, que fará a ligação entre os três mundos e o Orun. Assim, tudo que ligares no Aiyê, será ligado diretamente por mim no Orun, e tudo que desligares na terra, será desligado por mim no Orun.
Em seguinda, Olorun abençoou Iroko por ter doado uma parte do seu corpo pelo bem da humanidade, e o prometeu que ele seria A Maior Árvore Sagrada do Aiyê, e disse que nunca mais seria Extinto. Seria a única árvore a não sofrer a ação do tempo e passaria a ser morada dos ancestrais, mas também de abikú, de ibejis, e das yamis. E que nenhum mortal poderia derrubá-lo sem que houvesses punições. Irokô ganhou ainda o título de Eró isó – “ Grande Orixá e Senhor de Todas as Árvores”, onde até mesmo as Yá Mi repousariam.
Depois chamou Exu, devido ao acontecido e para que não mais acontecesse. E o nomeou como mensageiro do Aiyê e deu-lhe o título de Oluwo ikoritá ( O Senhor dos Caminhos Cruzados – As encruzilhadas). Aquele que, a partir daquele momento, levaria os pedidos dos homens aos Orixás.
A Exu, os caminhos.
A Oxala o Alabalaxé, o poder de por e dispor sobre toda a criação.
E a Iroko: Iròko Issó! Eró! Iròko Kissilé!, Ou seja:
*“Ser o Senhor de Todas as Árvores”.*
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Inspiração
Os itans são narrativas ancestrais africanas. A motivação é rememorar narrativas ancestrais, trazendo para nosso tempo, como forma de luta e resistência
Sobre a obra
Os itans, fazem parte do Odus de Ifá, oráculo nagô, que tem por premissas z explicar o mundo e a vida, via.consulta ao jogo de Búzios, cuja a configuração resultará em um rosário de histórias (itans) que responderão as perguntas do consulente.
Sobre o autor
Sou Carlos Alberto Araújo dos Santos, aposentado CAIXA, cadomblecista, cabeça de Oxala, do Ilê Axé Ijexá, militante, ativista, produtores Cultural Preto. Sindicalista, da APCEF Ilhéus - Sul da Ba, voluntario no terceiro setor, ONG M E C, professor, educador corporativo, graduado em Letras, especialização em ADM, MBA em Marketing
Autor(a): CARLOS ALBERTO ARAUJO DOS SANTOS (Carlão - Álábojí )
APCEF/BA