Talentos

Trabalho Infantil

Crônica sobre o trabalho infantil:

Recentemente assisti a um curta-metragem premiadíssimo: “A invenção da Infância”, cuja roteirista Liliana Sulzback retrata o que é ser crianças nos dias atuais, mostrando diferentes visões da infância em situações sociais distintas.
Em minha mente ficou marcada a última frase do curta: “ser criança não significa ter infância”, levando-me a refletir entre outras coisas sobre a grande diferença social existentes no País, bem como, a várias formas de violências a que as crianças são expostas. De um lado, em famílias de baixo poder aquisitivo crianças são impelidas a trabalhar para obterem recursos, mesmo que mínimos, para subsistência. De outro lado, famílias com melhores condições financeiras exigem que suas crianças sejam precocemente expostas às rotinas exaustivas (ballet, curso de idiomas, atividades esportivas) tudo para prepará-los para ocuparem uma posição de sucesso e “vencerem” na vida.
Assim, ser criança não significa, necessariamente, ter infância, pois cada vez mais cedo o indivíduo é incorporado à uma rotina estafante, independentemente, da idade.
Nesse período de pandemia presenciei mais fortemente em meu cotidiano crianças vendendo balas, água, outras mercadorias ou mesmo pedindo esmola em frente de supermercados, coletivos e semáforo. Em minha rotina, sempre me deparava com esse grande mal social que é o trabalho infantil, presenciando falas tais como: “trabalho infantil enobrece”, “melhor trabalhar do que roubar”, “trabalho não mata”, “começar a trabalhar cedo para garantir o futuro”, “eu trabalhei e não me fez mal algum.
Essa visão, contudo, contém uma falsa verdade, baseada no senso comum de pessoas que infelizmente também tiveram que trabalhar e não puderam desenvolver todo seu potencial físico e psíquico durante esse período. Seguindo essa linha de raciocínio, o trabalho precoce é uma alternativa para “tirá-las” das ruas e mantê-las “longe” das drogas. Contudo, além de negar as necessidades de desenvolvimento da infância essa forma de pensar, trata o descanso e o lazer como algo perverso e mal, que deve ser combatido com o trabalho.
A infância é o momento de brincar, aprender, de ser protegido e amado. Crianças que ingressam cedo no mundo do trabalho têm seus estudos prejudicados, sofrem consequências graves na sua formação física e emocional e se tornam adultos menos preparados e mais adoecidos. Afastar a criança do trabalho, assegurando-lhe meios de acesso ao lazer, ao aprendizado de qualidade e à infância plena e feliz, é um dever do Estado a ser perseguido e defendido pela sociedade.
Só com a erradicação do trabalho infantil, garantido o desenvolvimento equilibrado e sadio nesta fase de sua formação básica, o indivíduo poderá assumir, no futuro, lugar decente e digno na sociedade. A sociedade que protege suas crianças demonstra alto grau de civilidade e valores éticos. Que a realidade descrita por Jorge Amado no Livro Capitães de Areia, possa ser retrato de uma fase de nossa história que nunca volte a se repetir.

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Inspiração

Sempre me indignei com o trabalho precoce, pois o mesmo é maléfico ao desenvolvimento pessoal.
Sociedade e governo devem que criar condições para exterminar esse mal.

Sobre a obra

Nesse contexto de pandemia e do aumento das diversas precariedades que os marginalizados enfrentaram , a saídas para muitos grupos familiares foi a inserção precoce de seus filhos ao mundo do trabalho informal precoce

Sobre o autor

Mineiro-capixaba em busca da inatingível completude

Autor(a): JOAO CARREIRO RIBEIRO (Carreiro)

APCEF/ES