Talentos

MEDO OU INSPIRAÇÃO?

A fazenda do meu avô, Seu Juca, para os mais próximos, ficava no povoado Marmeleiro, no município de São Gonçalo da Mata, localizada em uma terra muito fértil, com água em abundância, muita terra dos dois lados da casa, na frente e atrás, com bastante mangueiras, cajueiros, coqueiros e jabuticabeiras, enfim, uma infinidade de fruteiras. A casa de meu avô na fazenda era muito grande, com muitos quartos, onde abrigava todos os netos que iam passar as férias escolares do mês de Julho. A casa ficava à margem da estrada, na parte mais alta do terreno, ´possuindo uma ampla visão dos moradores da vizinhança.
Na propriedade vizinha, há uns trezentos metros de distância, numa área mais alta, que possuía uma vegetação mais densa, estava localizada a casa de dona Joana de Bilina, conhecida como a “louca” da localidade, segundo meu avô e os moradores do povoado, ninguém se aproximava da casa dela e poucos tinham contato com ela.
Eu morria de medo, só em ouvir falar, nunca tinha visto o rosto dela, nem tinha visto ela de perto. Só a via de longe, quando ela passava na estrada em frente à casa da fazenda. Da varanda da casa de meu avô dava prá ver a casa dela, uma casa rústica tipo cabana, construída por ela mesma, utilizando varas de madeira e barro, possuindo uma cobertura feita com uma rede de fibra vegetal.
Eu observava o momento que ela saía de casa, cheia de apetrechos e objetos que ela mesma fazia para trocar no comércio local por coisas que ela precisava, mas no momento que ela passava em frente à casa de meu avô, eu a observava de longe, sempre mantinha distância, se ela olhasse para a casa ou para mim diretamente eu mudava meu olhar ou entrava logo na casa, mas, sempre observando-a, nem que fosse pela fresta da porta principal, tremendo de medo. Era uma mulher alta, negra, muito alta, magra e com cabelos enormes com tranças negras descendo sobre seu corpo, trajava sempre um vestido comprido marrom feito de uma espécie de tecido tingido, além disso, usava sandálias bem rústicas que pareciam ter sido confeccionadas por ela mesma.
Aquela vestimenta destoava do ambiente que ela convivia, por outro lado, combinava com aquele ar selvagem dela, além disso, o tom escuro e a roupa longa ¬¬¬¬¬que cobria todo o corpo, dava um ar ainda mais sombrio e tenebroso, tornando-a mais assustadora para as crianças que a temiam.
Os comentários sobre ela eram diversos, diziam que ela ficou maluca porque foi abandonada pelo noivo no altar, outros diziam que ela foi abandonada pelos Pais e ao fugir de casa ficou desmiolada, endoideceu e ficou maluca.
O certo é que se alguém quisesse intimidar um menino ou menina, era só dizer: “se você não fizer isso...” vou chamar Joana de Bilina prá te pegar”. Eu passei toda a minha infância, principalmente nas minhas férias, convivendo com esse medo, de que dona Joana de Bilina pegava criancinhas e devorava, como se fosse uma bruxa malvada. Mas, quando eu retornava das férias para minha casa na Capital, comentava com meus amigos da escola e todos ficavam curiosos sobre as estórias da “Bruxa”.
Hoje, ao rever na memória aqueles tempos de criança, lembro daquela mulher misteriosa e agradeço em silêncio, pois, ela acabou despertando em mim uma curiosidade de contador de histórias, inspirando-me a escrever causos e contos do nosso cotidiano.


Compartilhe essa obra

Share Share Share Share Share
Inspiração

Através de recordações da infância no interior, no período de férias escolares, das estórias contadas pelos meus avós, além de observações do cotidiano da vida interiorana.
O que motivou-me foi recordar da magia de uma vida simples no interior, mas, de muita magia num período da minha infância.

Sobre a obra

A obra é baseada em história real, vivenciada na minha infância no interior.
Busquei descrever o que vivenciei, tentando descrever o ambiente, e as personagens contextualizando de forma breve e mostrando a importância dessa vivência para despertar em mim a vontade de contar histórias.

Sobre o autor

Gosto de música, literatura, gastronomia e de conversar com os amigos. Creio que o fato de gostar muito de ler despertou a vontade de escrever contos e poesias.

Autor(a): REGINALDO XAVIER DA SILVA (JUCA MARQUES)

APCEF/RN