Talentos

Bom dia, senhor.

Bom dia, Senhor.

No auge dos meus 18 anos, durante a copa do mundo de 2002, estava iniciando minha quase carreira de “concurseiro”. Fui realizar as provas para o concurso público de sargento da aeronáutica, ainda não sei bem porque fui, mas estava lá, havia saído de Quixeramobim para Fortaleza e de Fortaleza para Recife. As condições financeiras bem escassas na época, mas me permitiram chegar lá de ônibus, ficar hospedado em uma pousada simples e se alimentar sem exageros. Era a primeira vez que fazia uma viagem dessas, outro estado, tudo muito novo, o dinheiro que eu levará não era suficiente pra retornar e meu irmão me socorreu com a ajuda do atendente da pousada que emprestou a conta bancária, conta que eu nem imaginava ter. Consegui assim resolver esse percalço.
O ano era o da copa do Japão e Coreia do Sul, portanto alguns jogos eram transmitidos na madrugada, assim como foi Brasil e Holanda, que assisti enquanto estava lá. Ronaldinho Gaúcho cobrou uma falta com mais felicidade do que eu fiz as provas e a seleção avançou de fase, o que não aconteceu comigo nesse concurso. Futebol na madrugada, prova que me arrebentou o cérebro, pouca grana pra retornar, fui correndo para rodoviária encarar a volta pra casa.
Ao chegar no terminal, fui correndo atrás do guichê da empresa de ônibus. Como era o costume e ainda se mantem hoje, assim que avistamos algum vigilante e precisamos de informação logo os abordamos, comigo não foi diferente, assim que vi uma guarda, fui de imediato pedir informação, ao aproximar-me ofegante já fui de cara falando apressadamente e indagando sobre a localização do guichê, a mesma educadamente, respondeu apenas – Bom dia, senhor. Agora com menos tempo e permanecendo sem a informação, indaguei novamente e a resposta foi idêntica – Bom dia, senhor. O roteiro se repetiu umas três vezes, até que me dei conta de que eu não havia sequer a cumprimentado, com um simples bom-dia e já fui ansiosamente despejando as minhas indagações. Tão logo percebi e a saudei com um bom-dia, ela me prestou assertivamente as informações de que precisava e tudo deu certo no meu retorno.
Naquele momento ela não só estava me advertindo como também estava me educando, já se passaram mais de vinte anos, as redes sociais e os meios digitais que há época engatinhavam, hoje são meios de comunicação massificados, mas a gentileza, a cordialidade, a empatia, o respeito, não deveriam, mas estão ficando escassos na sua utilização. Hoje temos meios ágeis de nos comunicar e estamos abdicando de sermos educados e gentis. Estamos vivenciando além do conflito de gerações, passando pelo avanço tecnológico, uma falta de educação que tem tornado as relações extremamente conflituosas, exercitamos muito pouco a empatia, o que vai desde uma simples, mas importante saudação até situações extremas de ódio, estamos perdendo a humanidade e nos tornando automatizados.
É preciso que exercitemos cada vez mais a empatia e devemos iniciar pela comunicação, nos colocando em escuta acolhedora, mesmo que através dos meios digitais, praticarmos o respeito pelas opiniões e claro, não vamos esquecer de dizer um velho e sempre saudoso, bom dia! E que ao esquecer que tenhamos a felicidade de como eu, encontrar pessoas que nos façam lembrar, que devemos sempre iniciar um diálogo com um cumprimento, nem que seja o velho e útil bom-dia.

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Inspiração

A motivação foi a atualidade e a dificuldade de comunicação empática existente atualmente, inspirada em uma situação ocorrida comigo e que nunca esqueci sobre a cordialidade nas comunicações.

Sobre a obra

A obra é uma crônica, a técnica utilizada foi a linguagem simples e narrada a partir de um acontecimento cotidiano, trazendo uma análise crítica. O resultado foi obtido partindo de um esboço inicial, passando por uma revisão até chegar ao texto final.

Sobre o autor

Sou Thiago Paulino do Nascimento e tenho 38 anos, resido atualmente em Quixadá. Estou iniciando na arte da escrita, embora já tenha despertado o interesse pela arte de escrever antes, estou começando a exercitar de forma mais dedicada atualmente.

Autor(a): THIAGO PAULINO DO NASCIMENTO (Thiago Paulino do Nascimento)

APCEF/CE