Talentos

a memória da água


quando menino, eu costumava tomar banho de chuva.
(meus pais lembrarão melhor que eu).
em Caicó, onde a chuva é rara,
sempre que o céu a trazia,
em gigantescas nuvens escuras,
saíamos, eu, meu irmão e meu pai,
para o lado de fora de casa,
e deixávamos a água que escorria pela calha
nos cair sobre as cabeças.
um oceano de água, onde afogávamos
toda a sede que tornou famoso
o calor e a seca da região do Seridó.
há anos que não tomo banho de chuva.
minha memória me falha constantemente,
(e talvez a água, rara, nem fosse tanta)
mas é assim que prefiro me lembrar.

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Inspiração

Ocasionalmente, tenho momentos de nostalgia, em geral envolvendo minha infância. Sempre relacionados ao meu convívio com meus pais, lembranças que moldam, sempre, algo do que sou hoje. E a lembrança é sempre algo engraçado: exagera e modifica, mas se solidifica e passa a ser real. Por isso, escrevo sobre a forma como prefiro lembrar.

Sobre a obra

Utilizei versos livres, fluidos (como a água), quase como prosa. Como uma lembrança. Uso letras minúsculas nos inícios de frases ou parágrafos, pois é como a fala e o pensamento surgem, naturais, sem ênfases. Escrevo como penso.

Sobre o autor

Escrevo para não ter que pagar terapia.

Autor(a): DIEGO LEITE DE BARROS (Diego Leite de Barros)

APCEF/RN