A TRISTE DISPONIBILIDADE

A TRISTE DISPONIBILIDADE

Outro dia me peguei pensando em como amo estar junto ao mar, como a visão daquela vastidão azul me inspira e me aproxima do espiritual. Recordei então, do tempo em que morei em uma casa de praia em Florianópolis, e de como nos finais de tarde, eu descia a ladeira para me banhar gostosamente naquele mar lindo e frio de Tapera (isso foi nos meses iniciais). Esta feliz rotina durou pouco mais de três meses, e de repente minhas descidas rotineiras se tornaram cada vez mais escassas, virando compromissos semanais, mensais, até que cheguei a passar vários meses sem entrar na água salgada que tanto amava, mesmo olhando para ela romanticamente todas as manhãs ao abrir minha janela.
Me veio à mente um adágio que me acompanha desde tenra idade, e que reflete uma notória sabedoria; “QUANDO O PRAZER PERMANECE, NÃO PERMANECE O PRAZER”, transportei então este axioma para outros fatores da vida, como o viver a dois. Por que casais tão apaixonados e felizes, são corrompidos pelo tempo que passam juntos, e após terem seus sentimentos arrefecidos, tornam-se como inimigos e se separam? Conheci, aliás, casais cujo quadro descrito acima, era inimaginável de ocorrer. Fiquei de fato entristecido pela deterioração presenciada, pois mesmo estando eles separados e se odiando, permaneci amigo de ambos.
Ao meditar nesta situação à luz de minha experiência com meu querido mar, lembrei das palavras do Filósofo americano R. W. EMERSON, que acertadamente diz que não se pode satisfazer a imaginação/idealização e os sentidos ao mesmo tempo, pois são excludentes. A visão do oceano é inspiradora, mas ao entrarmos nele, o encanto desaparece, pois saímos da sensação para os sentidos. Concluí que por outro lado, temos outra questão, que é a SENSAÇÃO DE DISPONIBILIDADE. Somos humanos, e como tal, falhos em diversos aspectos. Em minha imaturidade eu condenava tais falhas nas pessoas, não demorando muito para as mesmas me afligirem. Mas estas são marcas indeléveis de nossa alma que devemos aceitar, conviver, e com o autoconhecimento, procurar suprimir de alguma forma. Uma destas falhas capitais, é somente valorizar algo ou alguém ao perdermos seu acesso. Esta é de fato uma frase cliché, mas reflete em si uma grande verdade. Sabemos que é ASSIM, e ainda continuamos agindo da mesma forma, caminhando para a mesma conclusão como bois ao matadouro, sofrendo a pena anunciada. Dentro desta falha programada de nossa essência, o que acaba conosco é justamente e sensação de disponibilidade do alvo de nossa afeição. Por mais que amemos algo ou alguém, se o temos ao nosso alcance quando queremos, acabamos por perder o encanto do primeiro amor, assumindo seu lugar a rotina, e com ela a desvalorização gradual. Com a desvalorização e a banalização, o sentimento puro se esvai, nascendo em seu lugar uma inconsciente busca por novas conquistas e objetos de afeição. Contudo, se nos afastamos novamente, ou por alguma razão a disponibilidade nos é tirada, voltamos a sentir aquela saudade gostosa, a falta romântica e doce (e em alguns casos, a culpa).
Quanto ao meu caso, venci meu descaso com o Oceano ao me mudar para bem longe dele, fazendo que ao longo dos anos seguintes, ele fosse o alvo principal de minhas tão esperadas férias anuais. A paixão voltou, o encanto, a magia, mas após uns dias de intenso namoro, me afasto novamente, para que a saudade venha de forma leve e sadia, juntamente com planos para novos encontros futuros.

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Inspiração

Caminhando em uma praia deserta, me veio esta pequena epifania, e resolvi deitar no papel minhas conclusões.

Sobre a obra

UMA CRÔNICA RREFLEXIVA, COMO COSTUMO FAZER EM MEUS TRABALHOS. MOSTRAR UM FATO E DISCORRER SOBRE AS LIÇÕES TIRADAS DELE.

Sobre o autor

Desde tenra idade sempre fui muito ligado à arte como um todo. Sou Polímata (poeta, cronista e ensaísta, artista plástico, canto e toco percussão). Ano passado lancei meu primeiro livro de poemas e participei de algumas amostras de artes. Sou um entusiasta do TALENTOS FENAE/APCEF.

Autor(a): PAULO SERGIO SOUZA AZEVEDO (PAULO AZEVEDO)

APCEF/MS


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