A CIDADE

A Cidade Luís Lins

Tramas de tapete revestem a cidade coberta de pó e sol,
onde pessoas correm, como seu rio.
Pessoas correm atrás do pão e não comem.
Fazem o que não gostam e às vezes não sabem… nem comem.
Como não sabem, também não sabem aonde vão… nem comem
E então, em vão, vêm e vão por esse vão,
sem saber onde vai dar esse rio que passa sob as pontes por onde vão.
Pontes essas por onde passam sobre.
E sobre as quais não sabem também o porquê… nem comem.
Não sabem, porque sabem que já há muito o que não saber.
São famintos sem nome e não comem
Não sabem onde morar, porque não moram... nem comem
Por ora vivem… somente.
Às vezes oram… e vão vivendo.
Vivendo sem viver ou dançar.
E na vida dançam, porque não há justiça.
E não há justiça, justamente porque existem aqueles que não comem.
E existem aqueles outros (estes eus e esses)… esses que não enxergam… mas comem.
E elegem justamente aqueles que deveriam enxergar aqueles outros,
aqueles que vão e vêm pelas pontes, sem rumo, sem nome e que deveriam comer… mas não comem
Elegem aqueles que deveriam amar a justiça, por ser justo amar a justiça.
E justo por isso, justiça seja feita, não enxergam a justiça… e nem aqueles,
justamente porque não precisam dela por argumento, nem daqueles por instrumento…
Não precisam enxergar, por ora, já que dormem o sono dos justos e guardam a justiça para o próximo pleito… e oram.
E comem..

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Inspiração

A cidade é um ambiente hostil aos desvalidos. O cotidiano da cidade funciona alheio a sua presença, como se não existissem. Assim como o rio, eles caminham pela cidade, mas não sabem exatamente aonde vão e não comem. O prato está vazio. Enquanto isso, os outros (eu e outros), protegidos pelo pacto social, caminham protegidos e têm para onde ir.

Sobre a obra

A Cidade é um poema construído em versos livres, visual e eloquente, que grita contra a injustiça praticada pela trama social de uma cidade que exclui e trata como massa sobrante aqueles que não tiveram a sorte de nascer do lado de dentro das casas confortáveis, onde se escondem aqueles que deveriam promover a igualdade.

Sobre o autor

Após uma longa carreira na CAIXA, dedico-me agora com mais afinco às artes plásticas e e à produção literária. Nas artes visuais, especialmente na pintura, mas também em fotografia e vídeo, procuro traduzir em imagens a beleza de nosso cotidiano. Em literatura, uso a palavra para retratar a beleza das coisas simples de nosso mundo.

Autor(a): LUIZ HENRIQUE LINS BARROS DE CARVALHO (Luís Lins)

APCEF/PE