Vai um suco de laranja?

O ano era 2004, o Bairro do Renascença em São Luís já se tornara o coração da cidade, onde estavam os mais belos empreendimentos imobiliários, condomínios, escolas, hospitais. Os bancos rapidamente instalaram agências ao longo da movimentada avenida Colares Moreira, e o centro econômico e financeiro definitivamente de mudava do centro para aquela próspera região.
O Sr. Francisco, que residia do outro lado da cidade, acabara de se aposentar nesse período, era funcionário de carreira de uma antiga Indústria de São Luís, que tinha como atividade a exploração de produtos químicos para serem utilizados nas mais diversas áreas produtivas.
Cidadão ativo e sempre dedicado a família e ao trabalho o Sr. Francisco decidiu que, mesmo aposentado, ainda continuaria a sua vida laboral, e com os recursos obtidos da sua aposentadoria resolveu investir e se tornar um pequeno empreendedor.
A cidade de São Luís tem um clima quente e úmido, a temperatura média sempre ultrapassa os 30 graus, e todos os ludovicenses precisam estar consumindo líquidos periodicamente para se manterem hidratados
Bingo! assim pensou o Sr. Francisco, eis uma ótima oportunidade de negócios, mas como concorrer com as centenas de vendedores de água mineral espalhados por toda a cidade?
Eis que dias depois um simpático senhor negro, magro, usado sempre um boné e um óculos escuro, e um largo sorriso no rosto passou a ser visto em um dos mais movimentados cruzamentos das avenidas de São Luís, no Bairro do Renascença
É Claro que estamos falando do Sr. Francisco, que ao contrário dos ambulantes que comercializavam copinhos de água mineral, nosso personagem surgiu vendendo suco de laranja em garrafinhas, e, adivinhem, o carrinho que acondicionava o seu produto tinha formato de uma laranja!
Inicialmente pela curiosidade os motoristas e pedestres que ali passaram começaram a experimentar a novidade, alguns ignoravam, outros pediam “bis”, mas independente de quem quer que fosse o Sr. Francisco tratava com toda a sua simpatia, estendia o braço e oferecia seu produto com uma frase característica: Vai um suco de laranja aí?
Fizesse chuva o sol, a cena era a mesma, o Sr. Francisco sempre estava ali de domingo a domingo, distribuindo sorrisos e simpatia, logo se tornou o queridinho das crianças, adquiriu respeito de todos e muitas amizades foram conquistadas, sua presença trouxe “leveza” para um local em que prevalecia sempre motoristas nervosos e apressados, som alto das buzinas, e carros disputando com pedestres cada pedaço da avenida.
Os anos foram passando e ele sempre estava ali, costumeiramente ganhava presentes das pessoas, cestas básicas, roupas, bonés, itens de higiene que ele sempre agradecia e retribuía com uma garrafinha de suco de laranja, muitos sorrisos e muita alegria
Em meados de 2020 quando o mundo foi assolado pela até então desconhecida COVID, grande parte da população teve que se isolar, os trabalhos remotos começavam a surgir, o Sr. Francisco, entretanto,se negava a sair dali, então ganhou máscaras, luvas e demais vestimentas que o protegiam, e continuou firme em sua missão.
Em virtude da pandemia o fluxo de carros e transeuntes diminuiu, as vendas caíram, mas nosso personagem não desanimou, e com todo o entusiasmo de sempre se mantinha firme no seu propósito, mesmo a partir de então levando para casa pouco dinheiro, que já nem dava para cobrir os custos do seu trabalho.
Para a surpresa de todos por alguns dias o Sr. Francisco de repente deixou de aparecer no conhecido local, eis que todos se mobilizaram em sua procura e foi descoberto que ele havia sofrido um enfarto e estava internado em um hospital público.
Tudo não passou de um grande susto, medicado, fragilizado, mas movido pela sua grande alegria de viver Sr. Franciso votou as suas atividades. Certo dia foi entrevistado, contou histórias, já se passavam oito anos que ele estava ali, e já era impossível para todos dissociar aquele ponto da avenida a sua presença.
Até que chegou o dia do Sr. Francisco encerrar seu ciclo de trabalho, pois, já com idade avançada já não reunia mais força necessária para manter aquele ritmo, a missão estava rigorosamente cumprida, com todos os méritos devidos.
As pessoas que costumeiramente visitam o Sr. Francisco em sua casa, continuam se encantando com a sua simplicidade, seu exemplo de vida, a empatia que ele naturalmente tem para lidar com todos e grande resiliência para superar os inúmeros desafios e obstáculos que a vida o impôs.
E as visitas recebidas não poderiam ser encerradas antes do convite feito aos que chegavam em sua casa para ir até o seu quintal e conhecer o inseparável e fiel companheiro de tantas e incansáveis jornadas, o carrinho de suco de laranja, que ele orgulhosamente mostrava e logo pegava uma garrafinha e oferecia dizendo: Vai um suco de laranja aí?






















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Inspiração

Através da observação enquanto dirigia da quantidade de pessoas que tentavam vender alguma coisa nos cruzamentos da cidade para ganhar algum dinheiro

Sobre a obra

Conto - parágrafos relacionados entre si onde pode-se observar que o texto tei uma introdução, desenvolvimento e conclusão relatando a história de um personagem que observei enquanto dirigia pela cidade

Sobre o autor

Talento herdado do pai e avô que nos incentivavam a apresentar nossos talentos nos encontros de família

Autor(a): PAULO EGIDIO OLIVEIRA DA SILVA (Paulo Egidio)

APCEF/MA


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