SOB RÉSTIAS

SOB RÉSTIAS

O corpo inerte
À beira da estrada
Não está moribundo
Não é vagabundo
É a miséria do mundo

Escrevi estes versos um dia desses, depois de presenciar uma cena enquanto ia para o pequeno sítio que tenho nos arredores de Teresina.

Não foi a primeira vez que me deparei com situação semelhante. No condomínio onde moro, frequentemente vejo trabalhadores descansando após o almoço sob a réstia de árvores, no asfalto quente.

Hoje, quando eu ia saindo do sítio, encontrei, sentados na calçada em frente, seis trabalhadores que esperavam a refeição fornecida pela empresa para a qual prestam serviço e que atualmente está contratada pela prefeitura municipal para trocar o asfalto da estrada.

É uma obra que se estende por vários meses e que já passou por várias empreiteiras, a exemplo do que permeia as obras públicas no Brasil, que demoram horrores para terminar e quando terminam estão com o valor extremamente elevado em função dos aditivos de preço a cada novo contrato.

Mas, voltando aos trabalhadores, que é a nossa pauta. Já era mais de meio dia e eles reclamavam do atraso da chegada das refeições. Um cantarolava uma música que falava sobre espera, outro dizia que só começaria qualquer trabalho depois do almoço e um terceiro falava que talvez a comida só chegasse por volta de 14 horas.

Eu me aproximei e conversei um pouco com eles, perguntei qual era a empresa que trabalhavam, falei mal dela, pois já a conhecia de "outros carnavais" e, para instigá-los mais disse, referindo-me ao atraso das refeições:

- Saco vazio não segura em pé! Vocês têm que reclamar, é um absurdo isso!

Um deles concordou, outro me olhou enviesado.

Segui viagem pensando no infortúnio dessas pessoas. As opções de trabalho são poucas e sazonais, o que as obriga a aceitar o que aparece, mesmo em condições desumanas, como é o caso do trabalho braçal sob um sol de 40 graus, sem a proteção adequada e com salários irrisórios.

Cheguei em casa indignada e, curiosa, fui verificar pela câmera que cobre a frente do sítio se a comida dos trabalhadores tinha chegado.

Eis que me deparo com a mesma cena dos versos: os seis homens estavam deitados no chão, à beira da estrada, inertes.

No meio deles avistei uma marmita e uma garrafa térmica de água.

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Inspiração

A rotina de trabalhadores braçais.

Sobre a obra

É uma pequena crônica narrativa, que pode nos levar a uma reflexão sobre as condições do trabalho no Brasil.

Sobre o autor

Gosto de fotografar e escrever.

Autor(a): EDILENE MARIA MOURA FACUNDES (EDILENE FACUNDES)

APCEF/PI