ARTE ABSTRATA

O abstracionismo é um movimento modernista surgido no início do século XX, na Alemanha, encabeçado pelo extraordinário pintor russo Wassily Kandinski (1866-1944), que trouxe inovação para o universo das artes, curiosamente pelo fato de que ele nutria grande antipatia pela prática das escolas renascentistas, de pinturas realistas, cujas obras reproduziam unicamente amostras de coisas existentes, com utilização de pouca criatividade.

Com seu modo particular de pensar e encarar a vida, Kandinski questionava a arte clássica e apoiava novas maneiras de criação, como um contraponto visual da arte realista, de representação fiel da realidade. Em 1912, por acreditar na transformação por intermédio de uma arte inovadora, que buscasse valores interiores, lança o livro intitulado “Do espiritual na arte”, causando enorme impacto no mundo artistico da época.

De meu particular, ao iniciar os quefazeres para participar de mais uma edição dos TALENTOS FENAE, me deparei com a constatação de que meu estilo e gosto no campo das artes plásticas, onde me meto de enxerido, pende mais para os temas abstratos, que fogem da realidade, tão difundidos por Kandinsky e outros inúmeros artistas, do que para os de padrões figurinistas tradicionais, que reproduzem padrões reais já viventes.

Há tempos que contemplo desenhar e pintar por distração e, nos mais diversos materiais que já confeccionei, seja para enfeitar a casa ou presentear amigos e parentes, jamais me detive a um só tipo de arte. Desta feita, ao perceber o quanto me identifico com a realidade abstracionista, que nos permite ver com a mente o que os olhos não enxergam, decidi por me dedicar com mais ênfase nessa vertente, que ocupa telas e paredes do mundo há mais de um século. Assim, confeccionei duas telas com temas abstratos para a versão 2024 do evento da FENAE.

Confio que todas as artes são belas e agradáveis, ainda que as abstratas não almejem proporcionar significado visível ao primeiro olhar, fisicamente definido. Ao contrário, elas permitem ao artista viajar além do concreto, e ao espectador, ver além da imaginação, sem qualquer tipo de padrão ou regra estabelecida.

Para bem apreciar qualquer tipo de criação artística não objetiva, que não carrega uma representação clara da realidade, como o desenho do mar, por exemplo, ou a caricatura duma pessoa, ou mesmo a foto dum carro, acredito que devemos observá-la com os olhos da alma, sem nos prendermos a qualquer tipo de imagem pré-existente, deixando o pensamento fluir e outra arte nascer em nossos devaneios.

Somente contemplando a sensação única e indivisível que uma invenção abstrata nos proporciona, sem prejulgamentos, é que podemos estabelecer conexões próprias da arte em si com outros elementos reais da natureza. Nossa mente é que irá criar o que ela imagina estar vendo, pois, todo aquele que atentamente observar, terá sua própria percepção, livre e totalmente dissociada de qualquer outra visão.

Diferentemente do realismo, que procura representar integramente cada detalhe do objeto, como se uma cópia fosse, a obra abstrata é única, sem igual no universo, que oferece ao artista a oportunidade de confiar em sua própria intuição buscando criar invenções igualmente dignas de admiração e exposição em qualquer lugar do planeta. O abstrato também é incrivelmente belo.

Lùiz Neves