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No banco de trás, uma vida inteira pela frente!
No banco de trás, uma vida inteira pela frente!
O que é bom dura pouco!! – Pensava eu, sentada confortavelmente num banco de ônibus, voltando de umas férias curtíssimas de cinco dias! Era final de julho, um inverno bem frio nesse lado do país. Estava saindo de Campos do Jordão em direção ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde voaria de volta pra minha terrinha quente!
Contemplava a beleza da paisagem daquela estrada, tentando guardar o máximo de lembranças boas! Tudo ali era lindo! Mas o horário de 13h, logo após o almoço, não deixava meu corpo esquecer que, naquele momento, merecia uma soneca! E eu, com minha enorme facilidade para dormir em qualquer circunstância, já estava quase pegando no sono...
_ Olha que lindo! Quero criar meus filhos num lugar assim!- Uma voz feminina, ainda meio infantil, surgiu com essa exclamação que me chamou a atenção.
E ela continuava com a admiração:
_ Olha esse campo limpo, bem verdinho! Uma casa com tudo isso de jardim deve ficar incrível! E se tiver um balanço numa árvore grande fica perfeito! Que criança não seria feliz num lugar assim?
A essa altura a fala da moça já havia roubado meu sono e eu fiquei a escutar sua conversa, sem saber com quem ela falava, pois só ela falava!
_ Eu na verdade gosto mais de Recife! Lá tem pagode e cerveja na beira da praia, é maravilhoso! Mas deve combinar mais com a velhice né? Deve ser bom terminar a vida por lá, que é uma fase mais calma. Ou para quem não quer filhos!
Intrigou-me a mudança repentina de cidade! Mas a reflexão dela ficou ainda mais interessante:
_ Acho que minha linguagem de amor é ato de serviços. Acho que ficaria feliz se você lavasse a louça pra mim!
Nesse momento eu captei instantaneamente o contexto: um jovem casal de namorados, recém-casados talvez, estavam nos bancos atrás do meu, planejando a vida juntos. Porém eu ainda não tinha evidências que havia alguém com ela. Só ela continuava a falar:
_ Quero fazer uma lista de presentes! E a máquina de lavar louças é o primeiro item da lista, acho que é o mais importante!
A lista dela só aumentava:
_ Vou colocar um triturador de pia. Vi num filme e achei muito útil! Máquina de lavar roupas e um aspirador de pó também são indispensáveis!!!
_ E o PlayStation 5? Ele tem que estar nessa lista! – surgiu então a voz masculina.
Olha só!! A prova de que não era um monólogo. Havia mesmo um casal atrás de mim! Já estava acreditando que a moça pensava alto demais com seus botões! E não haveria prova melhor de que havia um homem ali do que a exigência de um videogame. E com alto título de importância. Bem típico de homens!
_ Não! O PlayStation 5 não pode vir antes da panela de pressão elétrica! – retrucou ela, num tom de voz mais alto que o mantido até agora!
_ E ainda tem o robôzinho elétrico! Minha prima Júlia disse que ele é super útil. Mas não sei bem como funciona!
_O PlayStation5 vem antes! Com certeza!
E reinou um silêncio! Não houve mais argumentações por parte dele, nem contestações por parte dela! E na ânsia de saber o que acontecia eu quase cedi à curiosidade de olhar para trás! Mas antes disso voltou-se a ter conversa, se bem que eu não entendi muito o sentido da nova conversa:
_ Me ajuda a comprar uma cabra?
O silêncio pairava, mas ela continuou, e deu pra ver o nível do seu entendimento sobre o assunto:
_ A cabra é a mulher, né? A que dá leite?
Ele nada respondia.
_ Minha tia Aurora tinha uma cabra, ela é do tamanho de um cachorro! – complementou ela.
_ Deve ser do preço de um Iphone! – foi a única participação dele no quesito cabra!
E tudo ficou calmo. Mas só por um instante.
_Amor e as alianças? Sua mão é bem maior que a minha! – sobressaltou-se ela.
_Calma, já estão compradas! – falou ele docemente.
_ Nosso casamento será lindo, não será?! – dava pra sentir a ansiedade dela na voz.
_ Será sim meu amor! E nossos filhos vão adorar jogar Playstation5! – falou ele já baixinho e devagar. Acho que tentando encerrar a conversa. Talvez o sono tenha chegado pra ele também.
E o silêncio, assim como o amor, pairou no ar daquele ônibus!
Não era apenas eu que começava a dormir naquele instante.
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Inspiração
Nas féria de julho visitamos Campos do Jordão. No retorno ouvi essa intrigante conversa dentro do ônibus!
Sobre a obra
O conto é a conversa de um jovem casal sobre o futuro juntos. Mesclando realidade e ficção temos uma bela história de amor.
Sobre o autor
Sou uma mulher, mãe, filha, amiga e gerente de Banco! Me dedico com amor e compromisso a tudo que faço e estou enveredando por novos caminhos. Por isso vim estrear meu lado escritora aqui neste concurso!
Autor(a): JOSEANE SENE MACHADO (Joseane Sene)
APCEF/PI
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