POESIA DA FOME À MESA

POESIA DA FOME À MESA.

Naquela mesa já não tinha nada,
Nada tinha a geladeira vazia.
A dispensa estava quase zerada
E até a polenta tão economizada
Acabou justamente naquele dia.

A panela grande estava tampada
E dentro dela nada se cozia.
Só a fome que lhes era preparada
Misturada que nem uma salada
Com a realidade de cada dia.

A pressão não era dentro da panela
E não era feijão que ela cozinhava.
Era a fome e o que vinha com ela
Desespero, desgraça e a miséria
Com essa pobreza que os humilhava.

A fraqueza aparecia em baixelas
Com a desnutrição que acompanhava.
Só as lágrimas enchiam a tigela
Pingavam uma a uma com cautela
Na mesa pobre que não alimentava.

O copo também estava vazio,
Sem nem uma gota de dignidade.
Cada corpo vestia o mesmo arrepio
De fome, de sede, de muito frio
Em meio a desumana precariedade.

Do forno só soprava um calafrio,
O medo assava com autoridade.
Tremia pensar no futuro sombrio
Onde comer é sempre um desafio
E viver é uma incapacidade.

Faltava de tudo naquela casa:
Oportunidade, renda, comida.
“O tal” capitalismo castigava
E a sociedade que nem se importava
Desperdiçava comida vencida.

Mas estavam sempre naquela mesa,
De mãos dadas e cabeça erguida.
A união lhes trazia uma certeza:
Não importa como a vida esteja
Juntos, encontrarão uma saída!

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Inspiração

Poesia inspirada nas histórias da minha mãe, que, solteira e com quatro filhos, veio do interior para a cidade grande em busca de uma vida melhor. Comer era um desafio diário, muitas vezes só havia polenta e água (quando não faltava água por falta de pagamento). A única coisa que possuíam era um ao outro e bastava para acreditar num futuro melhor.

Sobre a obra

A poesia dramática, escrita em terceira pessoa, utiliza versos decassílabos e estrofes simples formadas por cinco versos, criando quintetos com rimas interpoladas (ABAAB). Com a regularidade dos versos e a simetria das rimas, busquei criar um equilíbrio que contrasta com a dramaticidade do conteúdo.

Sobre o autor

A paixão pela arte me acompanha desde a infância e faz parte de toda a minha vida. Sou apaixonado pela arte em suas diversas formas de expressão e acredito fortemente em seu papel social, transformador e histórico. Sou artista plástico, fotógrafo, músico e poeta. Praticar arte faz parte do meu ser e norteia meu pensamento sobre a vida e a sociedade

Autor(a): FABIANO RIBEIRO (FABIANO RIBEIRO)

APCEF/SC


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