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Um olhar sobre a resistência
O ano 2024 reservou inúmeros desafios para o estado do Rio Grande do Sul.
A enchente foi a maior da história gaúcha, ultrapassando a marca registrada em 1941. Vários foram os estudos e avisos de que o problema poderia se agravar ainda mais em decorrência das mudanças climáticas. Somado a isso, ainda, nos últimos tempos, constatou-se o escasso debate sobre ações de preservação e adoção de medidas de prevenção a catástrofes ambientais.
Pode-se enumerar uma série de omissões, descasos e negligências dos órgãos e agentes públicos ao longo dos anos, que decidiram priorizar outras pautas e agendas, deixando sempre a questão ambiental relegada a um plano inferior.
Diante do cenário desolador que se estendeu para a maior parte da região e de tantas notícias que abalaram os cidadãos, mesmo aqueles que não foram afetados diretamente por essa catástrofe, sentiram e solidarizaram-se com as consequências desse efeito devastador para o meio ambiente e para a população.
Uma das cenas emblemáticas, e que dificilmente se apagará da memória, foi a de um cavalo equilibrando-se num telhado, na cidade de Canoas, por cerca de 4 dias. As imagens repercutiram e causaram forte comoção nas mídias e redes sociais. Logo tornou-se um símbolo de resistência e bravura gaúcha, porém pouco serviu para se pensar num contexto maior e geral como, por exemplo, dar visibilidade necessária a um assunto que não poderá mais ser negligenciado da vida em sociedade.
Por isso, alguns questionamentos, ainda hoje, permanecem sem respostas, exigindo uma reflexão maior: será que se enxergará como foi possível chegar a esse ponto? Pode-se alegar, também, que o animal é grande e difícil de transportar; no entanto, que tipo de relação é essa que deixa o seu companheiro para trás? Só exploração?
Embora comemorada pelo resgate bem sucedido, a essa cena, dolorosamente sentida ou tristemente poética, nunca coube exaltação. Muito pelo contrário, representa a total falência e a degradação das formas de vida, do meio ambiente e do habitat de todos os seres. E enaltecer a resistência em fatos isolados de luta pela sobrevivência é mais uma forma de se naturalizar o sofrimento.
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Inspiração
Crônica sobre a enchente de 2024 no RS
Sobre a obra
Escrever para contar, refletir, questionar...
Sobre o autor
Por diferentes caminhos não imaginados, a exatidão dos números e a subjetividade das palavras compõem minha trajetória acadêmica e profissional.
Autor(a): REBECA BULCAO DA SILVA (Rebeca Bulcão)
APCEF/RS
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