Sob o sol escaldante do sertão, Sr Manoel vivia sua vida a moda antiga antigo, guiado pelo vento seco e pelo barulho das cigarras. Sua pele, curtida e maltratada pelo tempo, trazia as marcas de quem conhece a terra desde o nascimento. Cada amanhecer era uma promessa silenciosa de trabalho e resistência. Mas havia algo mais que o prendia ali, além do suor e do ar rarefeito: o mandacaru.
O cacto, ereto e impassível, era a testemunha de sua existência e de tantos outros… Quando Manel era menino, ouvia as histórias de sua avó: "Quando o mandacaru floresce, é sinal de esperança". E ele, de olhos brilhantes, aguardava o dia em que o espinho viraria flor.
Décadas se passaram, e Manel, como todos o chamavam, aprendeu a ler os sinais da terra. O gado magro, o céu sem nuvens, a poeira nos pés. Mas o que ele esperava, com uma paciência rara, era a flor do mandacaru. Toda vez que ela abria suas pétalas, em noites silenciosas, Manel sentia uma conexão profunda com a natureza e esperava a tão anunciada chuva que a fulô de mandacaru anunciara.
Naquela madrugada especial, a flor desabrochou com uma beleza que doía. Sr Manoel, agora velho, olhou para ela com os olhos marejados. A flor não trazia apenas a promessa de chuva. Trazia lembranças de uma vida que, apesar da dureza, fora vivida com a suavidade de quem sabe esperar e contemplar. A flor do mandacaru, em seu silêncio efêmero, era um espelho da alma de Sr Manoel, resistente e pura, banhada pela luz das estrelas.
Que linda que é a história de existência e de resistência da Fulô de Mandacaru.