Espelho Amazônico

ESPELHO AMAZÔNICO



Na penúltima manhã de inscrições do Talentos Fenae, o desejo de capturar algo único levou o casal a sair cedo de casa, deixando para trás a varanda ensolarada de Parintins. Estela, sempre companheira nas aventuras de seu marido, estava ao lado, junto ao fiel amigo Bili Joe, o pequeno yorkshire que os seguia com energia e curiosidade.

Com o telefone no bolso e uma ideia fixa na mente, seguiram em direção à Vila Amazônia, na comunidade Mato Grosso. O trajeto, sinuoso e envolto pelo verde da floresta, conectava todos com o que há de mais puro: a natureza em sua forma mais primitiva e, naquele momento, mais vulnerável.

O igarapé, que outrora fora um grande rio, agora se mostrava num intervalo de vida. A estiagem havia encolhido suas margens, expondo troncos que antes estavam submersos e criando um cenário de contemplação sobre os ciclos da natureza. Mas ali, em meio ao silêncio da água parada, um pequeno barco se equilibrava, imóvel, como se também aguardasse ser visto e compreendido. Bili Joe, sempre alerta, parava vez ou outra para investigar os sons ao redor, mas sempre voltava para perto do casal, como se soubesse que aquele era um momento especial.

A luz suave do final da tarde banhava o cenário, revelando um espelho perfeito na superfície do igarapé. O reflexo do barco era tão nítido quanto sua própria presença. Com calma, ele ajustou o telefone. A escolha do ângulo veio naturalmente, buscando a simetria entre o barco e seu reflexo. Estela observava, percebendo no semblante do marido a mesma concentração que ele aplicava ao cantar um salmo ou compor uma melodia. Enquanto isso, Bili Joe permanecia ao lado, como se compartilhasse da tranquilidade do momento.

O clique foi certeiro. Na tela do celular, a imagem capturada refletia mais do que um barco na água. Era a representação de uma jornada — o rio, o barco, o homem, sua musa Estela, e o leal Bili Joe, testemunhas de uma Amazônia que resistia, mesmo nos períodos de escassez.

Ao voltar para casa, o calor do dia já se dissipava. A fotografia estava pronta para a inscrição, mas o que eles realmente levaram daquela aventura foi a sensação de conexão com algo maior. A arte, naquele dia, não foi apenas criada; ela foi vivida.

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Inspiração

Ideia surgiu pelo fato da correria para não perder a inscrição no talentos. Fomos para a Vila Amazônia próxima a Parintins buscar a fotografia ideal e acabei saindo de lá com essa bela história pra contar.

Sobre a obra

Resolvi contar a história da nossa pequena aventura em busca de uma fotografia nos últimos dias de inscrições do TALENTOS FENAE. As ideias foram surgindo e fui passando direto pro computador.

Sobre o autor

Gosto do TALENTOS FENAE. Sempre inscrevo minhas obras. Acho um evento fantástico que une os artistas da CAIXA.

Autor(a): IVAN NUNES MORAES DE MELO (IVAN MELO)

APCEF/AM

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