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VESPERATA
VESPERATA
De férias de seu emprego e no intuito de vivenciar as lições de História de seus livros acadêmicos, Maria escolheu seu roteiro. E partiu, com um grupo de senhoras, para as Cidades Histórias de Minas Gerais.
Certamente a escolha também foi determinada pelo seu vínculo com Minas, já que sua família materna nasceu naquelas terras.
Mas esta história não é sobre Minas e nem sobre os familiares de Maria.
É sobre uma cadela, encontrada em uma das noites mineiras, que encantou a todos e virou conto de fadas numa imaginação fértil.
É sobre Maria Amélia, diamantinense da raça "border lata" e eleita mascote da Vesperata de 2023.
Maria Amélia costumava desfilar sua rara beleza pelas ruas da cidade e não perdia nenhum evento musical. Principalmente se regados a um bom vinho e quitutes mineiros.
Essa cadela formosa, estando ou não no cio, arrastava uma legião de admiradores. Todos seguiam no seu encalço, ávidos por um deslize e, ao menos, uma lambidela.
Para a última Vesperata, ela saiu escondida de casa, já que seu esposo Zé Leôncio a proibiu de colocar as patas prá fora sem a sua companhia. Isso, desde que a flagrou com o galante Zeferino na Cantata de Natal.
Zé Leóncio era um parrudo "vira alemão" muito respeitado na redondeza. Sua fama de cão de rinha ultrapassava as cercanias da cidade. Todos temiam seu temperamento briguento e seus dentes afiados.
Já Zeferino era um franzino "golden lata" acostumado à vida boêmia e frequentador das casas de perdição. Acumulava filhotes pelos quatro cantos das Minas Gerais. Era um encantador de corações caninos. Seu olhar penetrante e seu latido manso eram capazes de enfeitiçar as desavisadas.
Encontrou-se com Amelinha, como amorosamente chamava sua nova conquista, no Beco do Mota e depois seguiram para o evento. Não sem antes trocarem lambidas apaixonadas e juras de amor eterno.
Depois de dançarem algumas músicas juntos, Maria Amélia separou-se do amado e saiu desfilando seu charme em busca de corações piedosos que lhe dessem o que comer. Fartou-se de tirinhas de fígado gentilmente servidas pela encantadora Madalena. De paladar exigente, separava os pedaços de jiló e os jogava para os famintos cães que a rodeavam. Também rejeitava as batatas fritas, preocupada com o colestrol.
Como naquela mesa ninguém saboreava uma taça de vinho “cãobernet”, seu preferido, saiu por entre as mesas procurando quem lhe desse o que beber.
Lá pelas tantas, José Leóncio, percebendo o leito vazio, sai de casa na captura da fujona. Mas não sem antes avisar a polícia local. Cães de guarda, fiéis companheiros, o seguiam pelas ruas em busca da esposa atrevida.
No centro histórico, em meio à Vesperata, houve uma invasão de cães latindo e uivando por todos os lados.
A orquestra não parou, embora os instrumentos tenham desafinado um bocado no início da confusão.
O maestro, corpo ereto, com a coluna alinhada e os ombros encaixados, movimentava sua mão direita, regia e definia para os músicos o compasso e uma velocidade mais acelerada para a música.
Maria Amélia reconheceu o latido de Zé Leôncio. Sentiu que estava em perigo e que precisava se retirar do local o quanto antes. Nem teve tempo de ouvir a música do Roberto, mas Zeferino haveria de latir em seu ouvido que sabia que vai amá-la por toda a sua vida.
Corre desesperada, se esconde na mata e, na manhã seguinte foge, de carona em uma carroça, para a casa da mãe em Belo Horizonte.
Zeferino procura por ela na mesa de Madalena, mas foge sorrateiramente evitando ser enquadrado pelo milico que ali fazia a ronda e tentava colocar ordem no local. Desolado por ter perdido a amada, foi para o "bornil" afogar as mágoas e se esbaldar nas patas de outras cadelas.
Zé Leôncio rodou a cidade toda e foi visto pelas viajantes, dois dias depois, na estrada em direção à Gruta do Maquiné. Com vergonha, nunca mais voltou à cidade onde teve sua honra manchada.
Maria Amélia, com receio de ser encontrado pelo marido traído, muda de cidade com frequência. Assim como de namorado.
E na cidade, repleta de cidadãos fiéis aos bons costumes, serão anos de comentários sobre o triângulo amoroso entre os cães da Vesperata.
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Inspiração
Uma viagem à Diamantina e o grupo de cachorros ao redor de nossa mesa.
Sobre a obra
Eu não domino técnicas de escrita. Apenas deixo a imaginação fluir.
Sobre o autor
Sou uma romântica por natureza e por opção. Tudo me inspira amor.
Autor(a): MARIA CRISTINA TOLENTINO MORAIS CARLIN (CRIS TOLENTINO)
APCEF/SP