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Guaíba...algoz ou vítima...
Guaíba...algoz ou vítima...
Nessa semana, o rio veio impiedoso... Sem o pôr do sol, que lhe amenizava o semblante, agora era apenas força bruta,
Impondo suas águas, suas vontades...chegou engolindo nossos lares e sonhos, nos empurrando
para lugares que chamaram de abrigos...
Desprevenidos, sem espaço pra pensar... só queríamos um colchão pra deitar e chorar...
Assustados observamos nossos algozes... o Guaíba...e o desconhecido do colchão ao lado...
O medo de ventos, águas e mãos maldosas nos faziam insones...desamparadas...
Os voluntários que se desdobram em auxílio..."povo pelo povo"...grandiosos, já se percebem insuficientes.
Onde está quem tinha que nos cuidar...nos avisar do que vinha...evitar o que agora não tinha mais jeito...Ficamos entregues a própria sorte, vendo a noite substituir o dia...por dias e dias...
Minha linda cozinha se resumia então a uma pequena embalagem de isopor... marmita...o quentinho que fazia passar aquele borbulho do estômago...
Gente vai, gente vem...o Rex apareceu latindo...um momento de alegria.
Falam em reconstrução...alguns conseguiram voltar pra casa... nós fomos pra mais um desabrigo...
E o outro algoz, não o rio, nem o do colchão...o tal do chapéu de palha...agora quer me fazer acreditar que nada aconteceu...que ser violentada no meio da noite, por águas e corpos é culpa da natureza...quer que acreditemos que estamos todos loucos...roubaram nossos sonhos e agora nos prendem num pesadelo coletivo de convenientes mentiras.
E eu só quero voltar a ver...da janela da minha casa...sem medo... sem ranço, sem dor...o mais belo pôr do sol...sim...do Guaíba...que agora entendo não ser um algoz...mas sim mais uma triste vítima de mentes e mãos humanas gananciosas.
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Inspiração
Participei da cozinha solidária da Apcef-RS, durante a enchente, e esses relatos eram diários, muitas histórias também presenciadas no momento de entrega das marmitas. Não podemos deixar o que aconteceu no esquecimento, o
texto é também denúncia. A falta de manutenção e prevenção continuam,o prefeito, se isenta, culpando exclusivamente o clima.
Sobre a obra
Escrevi um conto baseado em relatos de flashbacks de memória das vítimas da enchente.
Fiz um relato em primeira pessoa, onde uma mulher expressa os sentimentos que vivenciou. Embora tenha acontecido em datas identifcaveis, mantive o tempo psicológico, confuso e indefinido, pela própria situação, que afetava inclusive a noção do dia e da hora.
Sobre o autor
Gosto muito de escrever...tenho diversos textos e participei de algumas obras literárias da Apcef RS.
Tenho 56 anos muito bem vividos, a vida me levou a diversos lugares, cidades, países...Me inspiro em histórias, amores, encantos e desencantos do caminho. A família e os amigos que lutam comigo em prol do bem comum, são a inspiração do dia a dia.
Autor(a): SIMONI FERNANDES MEDEIROS (Sissa Medeiros )
APCEF/RS
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