Despedida

Despedida
Ela levantou o seu braço, segurou sua mão, agora desfalecida e esvaída, antes, forte e intensa, mão que apertava seu corpo demonstrando segurança e confiança, tornou-se algo frágil e inábil. Olhou para ele fixamente, olhos castanhos e expressivos, porém, cheios de secreções das glândulas lacrimais que rolavam sobre seu rosto abatido e cansado, pois aquela luta diária já se arrastava há meses. Um olhar incrédulo com aquela situação que afligia seu apertado e nobre coração ao ver o homem que tanto amava padecendo em cima de uma maca fria e impessoal, mas que se tornará seu principal acessório naqueles últimos e longínquos períodos de agonia incessante.
Enquanto encarava seu companheiro, flashes de sua vida vinham em sua memória, lembranças dos momentos inesquecíveis que viveram juntos ao longo de sua feliz e intensa jornada, dias que ficariam marcados em sua mente e em seu coração, como quadro valioso e de valor imensurável. Enquanto isto, refletia como poderia ajudar o grande amor de sua vida a suportar tanto sofrimento e angústia, eram dores que a cada dia tornavam-se insuportáveis e a cada gemido seu, soava como um estrondo árduo e intenso nos ouvidos delicados e eficazes daquela amável mulher guerreira e paciente, esta era a única forma de expressar os impactos que as lesões pelo tumor estavam causando em seu cérebro.
Como pode uma doença causar tudo isto? Esta pergunta insistia em latejar no seu subconsciente. Aquele ser que estava a sua frente, em nada se parecia com o homem cheio de vigor, de alegria, de corpo exuberantemente, cheio de músculos e atlético, que chegava falando sempre “olha a hora”, forma de se identificar que chegou para incendiar o pedaço. Honestidade e generosidade eram pontos cruciais em seu caráter, gostava de cuidar de todos a sua volta, abria a porta de sua casa para quem precisasse.
Agora estava ali, inerte em seu estágio vegetativo, a pele pálida, desfigurada, expressão de quem quer falar algo, mas as forças estão esvaindo-se de seu corpo, agora caquético e judiado pelas sequelas da doença. Ele a olhava em seus olhos, como se tentasse imaginar o que se passava pelos seus pensamentos, observava aquelas lágrimas que rolavam em seu meigo rosto, e com aquele olhar de despedida, tentava explicar a ela o quanto ele era grato por tudo o que ela havia feito naqueles últimos meses de vida que passara ao seu lado. Manteve a expressão firme em direção ao seu amor de tantos anos e que levaria para toda a eternidade. Nos seus olhos, agora tristes, inexpressíveis e enrugados pelo sofrimento, também escorriam lágrimas, lágrimas estas de gratidão a Deus, pois tinha certeza que seu papel naTerra como pai, filho, irmão, companheiro e ser-humano haviam sido cumpridos, apertou a mão de sua estimada esposa, com todo a força que inexplicavelmente buscou do fundo de sua alma, para demonstrar seu eterno reconhecimento e amor pela sua família que ali estava reunida para seu momento de despedida.

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Inspiração

Quando tive câncer, fui para Brasilia e fiquei morando na casa dos meus tios, eles cuidaram de mim como se fosse sua própria filha. Infelizmente, meu tio teve câncer no cérebro e acompanhei seu sofrimento juntamente com minha tia, mulher forte, dedicada, amorosa. Ele generoso, divertido, forte e muito cuidadoso.

Sobre a obra

Simplesmente fui escrevendo o que vinha em meu coração. Texto narrativo e verídico

Sobre o autor

Gosto muito de escrever, desenhar, cantar, jogar, dançar e viver. Adoro momentos com a minha familia, razão da minha vida.

Autor(a): LUCIANA ALVES DE SOUSA BATISTA (Luciana Batista)

APCEF/TO


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